Um rei britânico e um Papa, enfim juntos em oração, após 500 anos
24 de outubro de 2025 05:44Em visita oficial ao Vaticano, o rei Charles III rezou ontem ao lado do Papa Leão XIV, tornando-se o primeiro monarca britânico a participar de um momento público de oração com um Pontífice católico em 500 anos. O momento marca um capítulo histórico na relação entre a Igreja Católica e a Igreja Anglicana – criada há 500 anos, quando o rei inglês Henrique VIII rompeu com a Santa Sé e fundou a sua própria religião.
A cerimônia realizada na Capela Sistina uniu as tradições católica e anglicana, com Leão XIV ao lado do arcebispo de York, Stephen Cottrell, atualmente o segundo clérigo mais importante da Igreja sediada no Reino Unido. A parte musical da cerimônia contou com a parceria entre o coral da Capela Sistina e o da Capela de São Jorge, do Castelo de Windsor.
O monarca de 76 anos, oficialmente governador supremo da Igreja Anglicana, sentou-se na parte da frente da capela, ao lado da esposa, a rainha Camilla, e do Papa, diante de uma plateia que incluía clérigos católicos e anglicanos, políticos e diplomatas. O Palácio de Buckingham descreveu a viagem de Charles ao Vaticano como “histórica”.
Ao vivo
Transmitida ao vivo, a cerimônia durou cerca de 30 minutos e combinou tradições das duas Igrejas. O papa Leão XIV e o arcebispo de York, Stephen Cottrell, presidiram a celebração sob os famosos afrescos de Michelangelo, na presença de prelados católicos e anglicanos, assim como de líderes políticos e diplomatas.
O tema central da oração foi a proteção da natureza, um sinal da convergência entre as duas igrejas em questões ambientais. Durante o serviço religioso, os coros da Capela Sistina e da Capela de São Jorge de Windsor performaram juntos.
Minutos antes, o papa Leão XIV recebeu o monarca de 76 anos, que atua como governador supremo da Igreja da Inglaterra, em uma audiência privada. Charles III, acompanhado de sua esposa Camilla, falou com o papa em inglês em um ambiente cordial e trocaram presentes, de acordo com imagens divulgadas pelo Vaticano.
À tarde, Charles III e Camilla participaram de outro evento religioso ecumênico na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, uma das quatro maiores de Roma. O rei recebeu oficialmente o título de “irmão real”, e um assento especial foi criado para ele. O trono permanecerá na basílica e, no futuro, poderá ser utilizado por seus sucessores.
A visita ocorre em um momento delicado para Charles III, em que seu irmão Andrew enfrenta novas e comprometedoras revelações no caso do criminoso sexual Jeffrey Epstein.
A religião anglicana nasceu em 1534, em uma cisão causada pelo rei Henrique VIII da Inglaterra, devido à recusa do papa em anular seu casamento com Catarina de Aragão. Em 1961, a mãe de Charles III, Elizabeth II, tornou-se a primeira monarca britânica a visitar o Vaticano desde a ruptura entre católicos e anglicanos. “É um evento histórico”, disse William Gibson, professor de História Eclesiástica na Universidade Oxford Brookes, ao falar sobre a cerimônia de ontem à agência France Presse (AFP). Gibson observou que, por lei, o soberano britânico é obrigado a ser protestante. “De 1536 a 1914, não houve relações diplomáticas oficiais entre o Reino Unido e a Santa Sé”, explicou o professor universitário. A embaixada britânica no Vaticano foi aberta há apenas 43 anos.
Em 2013, a lei foi levemente flexibilizada para permitir que membros da família real que se casassem com católicos mantivessem seu lugar na ordem de sucessão. Até então, se o fizessem, teriam que renunciar a qualquer aspiração ao trono.
Ao contrário da Igreja Católica romana, a Anglicana ordena mulheres e permite que padres se casem. Pela primeira vez em sua história, inclusive, acaba de nomear uma mulher como sua autoridade máxima: Sarah Mullally, de 63 anos, mãe de dois filhos, assumirá suas funções oficiais em janeiro de 2026.
- Na Capela Cistina, o Papa Leão XIV e o rei Charles III protagonizam um momento histórico: pela prmeira vez um monarca britânico rezou ao lado de um Pontífice católico desde que o rei inglês Henrique VIII rompeu com a Santa Sé, há 500 anos, criando a Igreja Anglicana. Foto: AFP
- Fonte: O Globo, com agências internacionais