
Veja como foi o 1° dia do julgamento dos assassinos de Marielle Franco
31 de outubro de 2024 09:56O primeiro dia do júri popular dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, que confessaram o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, se estendeu por mais de 13 horas.
A juíza Lúcia Glioche, responsável pelo julgamento no 4º Tribunal do Júri da Justiça do Rio de Janeiro, encerrou a sessão por volta das 23h50 da última quarta-feira (30), e o júri será retomado hoje às 8h, com as sustentações orais e leitura da sentença.
Na manhã de ontem, sete jurados foram sorteados, todos homens, para formar o Conselho de Sentença. Ao longo do dia, nove testemunhas prestaram depoimentos e os dois réus confessos participaram de forma remota. Lessa admitiu a autoria dos crimes e pediu desculpas às famílias das vítimas, enquanto Queiroz afirmou que só soube do assassinato de Marielle quando já estava conduzindo o atirador.
“Com absoluta sinceridade e arrependimento, pedir perdão às famílias do Anderson, da Marielle, à minha própria, à da dona Fernanda [Chaves, sobrevivente do atentado] e a toda sociedade pelos fatídicos atos que nos trazem aqui. Infelizmente não podemos voltar no tempo. Mas hoje eu faço o possível para amenizar essa angústia de todos, assumindo minha responsabilidade e trazendo à tona todos os personagens envolvidos nessa história, de cabo a rabo”, afirmou Lessa no interrogatório.
Em sua delação premiada, Lessa indicou como mandantes do crime os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, mencionando que ambos buscavam proteger interesses de grilagem de terras ao eliminar Marielle. Ele afirmou que o desejo de lucro com uma área na zona oeste, com possível rendimento de R$ 25 milhões, o cegou. “Era muita grana, fiquei cego com isso,” disse o ex-PM sobre sua motivação.
Entre as testemunhas, Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle e única sobrevivente do atentado, trouxe um relato marcante ao descrever: “Ouvi uma rajada, percebi que estava na nossa direção. Num reflexo, eu me encolhi.” Ela ainda recordou ouvir “um suspiro de dor” vindo de Anderson Gomes.
Marinete da Silva, mãe de Marielle, foi a segunda a depor e, visivelmente emocionada, desabafou: “Essa dor não tem nome. Ninguém, a não ser quem tenha passado pelo mesmo, pode avaliar a dor que estou sentindo.”
Os depoimentos mais comoventes vieram das viúvas de Marielle e Anderson, que emocionaram o público presente. A vereadora Monica Benicio, do PSOL e viúva de Marielle Franco, falou com pausas, lágrimas e voz trêmula.
“A única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Mas, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil e o mundo aguardam há seis anos e sete meses”, disse Monica.
Já Ágatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes, relatou o impacto da perda na vida do filho Arthur, que tem uma síndrome associada à onfalocele. Em suas palavras, “Arthur perdeu a pessoa que dizia que tudo ia dar certo, a pessoa que queria ser pai. Era a pessoa que falava que estava orgulhoso do filho.”
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Reprodução/Diário do Centro do Mundo