Juiz citou entrevista em que Delgatti diz que “ajudou vida do Lula” para agravar pena

22 de agosto de 2023 09:22

Com histórico de perseguição contra Lula, o juiz substituto da 10º Vara Federal, Ricardo Augusto Soares Leite, que condenou Walter Delgatti Neto a 20 anos de prisão nas investigações da Operação Spoofing cita uma entrevista que o hacker de Araraquara concedeu à Fórum em que ele diz ter ajudado salvar a vida de Lula ao revelar trocas de mensagens dos procuradores da Lava Jato. A entrevista é a mesma usada pela horda bolsonarista na CPMI dos Atos Golpistas para detratar Delgatti, que declarou na ocasião que votaria no candidato do PT.

A declaração de Delgatti Neto, que em julho de 2022 disse que “ajudei a vida de 220 milhões de brasileiros, inclusive a do Lula”, é classificada pelo juiz como “exibicionismo de suas condutas ilicítas e a qualificação de forma pública e virtuosa de seus atos criminosos, intitulando-os de ‘ajuda ao povo brasileiro'”.

A entrevista foi usada pelo magistrado para agravar a pena de Delgatiti, que foi condenado ao todo a 20 anos e um mês de prisão pelos crimes de organização criminosa, lavagem e ocultação de bens, direitos e valores, invasão de dispositivo informático, interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, e quebra de segredo de Justiça.

Soares Leite, em sua sentença a qual a Fórum teve acesso, afirma que a declaração de Delgatti sobre ter ajudado Lula é “inerente a este espécie delitiva”. 

“ConseqUências e circunstâncias normais à espécie delitiva. Não há comportamento da vítima a se considerar”, afirma o juiz, que cita a entrevista por três meses para aumentar a pena de Delgatti.

Histórico de perseguição a Lula

O juiz Ricardo Leite é apontado pelo PT e por interlocutores do presidente Lula como um magistrado antipático ao partido. A alegação dos petistas se baseia em alguns episódios em que fica clara a perseguição do magistrado ao presidente.

Em janeiro de 2018, Leite determinou que o então ex-presidente Lula ficassem impedido de deixar o país, o que fez o petista ter de cancelar às pressas uma viagem à Etiópia. Na época Lula era investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) sobre o caso do triplex do Guarujá. O juiz justificou sua decisão com o argumento de que Lula, que estava prestes a ser condenado, poderia deixar o país.

Meses depois, com o advento da Vaza Jato que revelou as condições nas quais Lula foi condenado, os processos foram anulados, o presidente solto e, readquiridos seus direitos políticos no final de 2019, concorreu e venceu as eleições de 2022.

Meses antes da decisão de Leita citada anteriormente, em maio de 2017, o mesmo magistrado suspendeu as atividades do Instituto Lula, argumentando que a sede poderia ser utilizada para a “prática de crimes”. 

A decisão foi tomada de ofício – ou seja, não foi provocada. Segundo nota da assessoria de imprensa do Justiça Federal “não houve pedido do MPF (…) A ordem de suspensão é do próprio juiz do processo”.

No entanto, em 2015, procuradores do MPF pediram que Leite fosse afastado dos processos da Operação Zelotes por haver negado uma série de pedidos de prisão da investigação.

Segundo investigadores da operação, Leite barrou vários pedidos de prisão preventiva solicitados pela Polícia Federal e paralisou as interceptações telefônicas quando as diligências caminhavam para comprovar crimes praticados por altos funcionários de bancos como o Safra, Bradesco e Santander. Ele acabou afastado da operação.

Damares ameaça e antecipa a sentença

Na semana passada, durante depoimento de Delgatti à CPMI dos Atos Golpistas, a senadora bolsonarista Damares Alves (Republicanos-DF) ameaçou de forma direta e explícita o hacker e antecipou a sentença do juiz federal, afirmando  que “não existiriam garantias jurídicas” de que ele sairia um dia do cárcere

Após uma fala atacando o hacker e seu advogado, a quem acusou de quere “apenas aparecer”, Damares disse que Delgatti ficaria na cadeia para o resto da vida. Mas o pior veio na sequência, ao disparar que “a vida dele está em risco”. Como ele está denunciando Jair Bolsonaro, os únicos que poderiam atentar contra sua vida, pela lógica, são os correligionários da senadora extremista.

“Só vou dizer o seguinte: a vida dá voltas e é a tua vida que está em risco”, falou a parlamentar que foi ministra dos Direitos Humanos, sem rodeios.

Reprodução/Revista Fórum

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