Governo brasileiro entra em alerta com risco de possível volta de Trump à Casa Branca
4 de novembro de 2024 10:47Integrantes do governo brasileiro acompanham com preocupação a possibilidade de Donald Trump retornar à Presidência dos Estados Unidos, preparando-se para um cenário que pode trazer novas tensões entre os dois países. De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, uma vitória republicana nas próximas eleições americanas pode intensificar divergências em temas sensíveis. Na última sexta-feira (1º), Lula expressou abertamente sua torcida por Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, ao falar sobre o avanço de ideologias extremistas em nível global. “Como sou amante da democracia, acho a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para governar bem o nosso país. Obviamente, estou torcendo para Kamala vencer as eleições”, declarou. Lula associou uma possível vitória de Trump ao que vê como uma “nova face do nazismo e fascismo no mundo”.
Para a diplomacia brasileira, um dos pontos mais críticos com Trump seria a interrupção de cooperação ambiental. Em seu primeiro mandato, o republicano retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e favoreceu a indústria de combustíveis fósseis, que hoje apoia financeiramente sua campanha. Em um cenário em que Trump volte ao poder, o Brasil teme que fundos importantes, como o Fundo Amazônia, permaneçam bloqueados pelo Congresso americano, caso este seja dominado pelos republicanos.
Outro ponto de atenção é a proximidade de Trump com Elon Musk, dono da plataforma X (antigo Twitter) e um dos principais financiadores do ex-presidente americano. Recentemente, Musk teve atritos com o ministro Alexandre de Moraes e seu apoio a Trump deve reforçar essa aliança. A presidente do Brazil Institute, Bruna Santos, afirma que “há articulações no Congresso dos EUA para questionar o Brasil sobre alegadas violações de liberdade de expressão, e isso deve ganhar força com Trump”. Segundo ela, isso abriria espaço para uma “guerra de narrativas exaustiva e pouco produtiva”.
Analistas de política internacional apontam que, na América Latina, Trump provavelmente buscará novos aliados, como Javier Milei, presidente eleito da Argentina, e Nayib Bukele, presidente de El Salvador, que se alinham à extrema direita. Com essa orientação, o ex-presidente Jair Bolsonaro, embora visto como um antigo aliado de Trump, pode perder influência na agenda regional do republicano. Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Europa, ressalta que Trump é “transacional” e prioriza quem está no poder, focando em parcerias estratégicas com quem possa ajudar a fortalecer a posição americana na região.
Outro ponto de tensão é a relação de Trump com Vladimir Putin, líder russo que Lula defende como peça-chave para uma solução de paz no conflito ucraniano. Caso eleito, Trump já declarou que reduziria o apoio militar e financeiro à Ucrânia, alinhando-se ao desejo brasileiro por negociações de paz. No entanto, isso pode vir acompanhado de uma política mais agressiva no Oriente Médio, onde Israel, liderado por Binyamin Netanyahu, poderia ver-se ainda mais encorajado em ações contra Gaza e o Líbano.
Em um cenário de vitória de Kamala Harris, o governo brasileiro espera uma continuidade das políticas de Biden, com diálogo mais aberto e alinhado aos valores democráticos e ambientais. Contudo, a complexidade da eleição americana leva a diplomacia brasileira a adotar uma postura pragmática, mantendo pontes de diálogo com ambos os lados até que o resultado seja decidido.
Foto de capa: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Reprodução/Brasil 247