EUA sabiam de plano da Ucrânia para atacar gasoduto russo Nord Stream

7 de junho de 2023 10:47

Uma agência de informação de um país europeu avisou a CIA, em junho de 2022, que as forças especiais ucranianas planeavam fazer explodir o gasoduto Nord Stream, noticia o Washington Post.

O diário cita informações de vários documentos confidenciais publicados online pelo jovem soldado americano Jack Teixeira, antes de a fuga de informação ter sido descoberta e o suspeito detido em meados de abril:

Três meses antes de sabotadores bombardearem o gasoduto Nord Stream, o governo Biden soube por um aliado próximo que os militares ucranianos planejaram um ataque secreto ao gasoduto submarino, usando uma pequena equipe de mergulhadores que se reportavam diretamente ao comandante-em-chefe das Forças Armadas ucranianas.

Detalhes sobre o plano, nunca antes revelados, foram coletados por um serviço de inteligência europeu e compartilhados com a CIA em junho de 2022. Eles fornecem algumas das evidências mais específicas até o momento, ligando o governo da Ucrânia ao eventual ataque no Mar Báltico, que as autoridades americanas e ocidentais classificaram como um descarado e perigoso ato de sabotagem na infraestrutura de energia da Europa.

O relatório da inteligência europeia foi compartilhado na plataforma online Discord pelo membro da Guarda Aérea Nacional Jack Teixeira. O Washington Post obteve uma cópia por meio de um dos amigos de Teixeira. Baseado em informações ucranianas, o relatório foi confirmado por autoridades que falaram em off para o Washington Post. A CIA compartilhou o relatório com a Alemanha e outros países europeus em junho passado.

Números de agentes e métodos de ataque são alguns detalhes do relatório – por quase um ano, os europeus tiveram base para suspeitar da sabotagem ucraniana. A avaliação só se fortaleceu nos últimos meses, quando investigadores alemães descobriram evidências sobre o atentado que guardam semelhanças impressionantes com o que o serviço europeu descobriu do plano feito pela Ucrânia.

Funcionários de vários países confirmaram que o relatório publicado no Discord afirmava com precisão o que o serviço europeu disse à CIA. O Post concordou em esconder o nome do país europeu, bem como alguns aspectos do plano suspeito, a pedido de funcionários do governo – expor as informações ameaçaria fontes e operações.

As autoridades ucranianas, que anteriormente negaram que o país estivesse envolvido no ataque ao Nord Stream, não responderam aos pedidos de comentários. A Casa Branca se recusou a comentar perguntas sobre o relatório europeu e a suposta conspiração militar ucraniana, incluindo se autoridades dos EUA tentaram impedir o prosseguimento da missão. A CIA também se recusou a comentar o assunto.

Em 26 de setembro, três explosões submarinas causaram vazamentos nos oleodutos Nord Stream 1 e 2, deixando intacto apenas um dos quatro nós da rede. Funcionários do governo Biden sugeriram inicialmente que a Rússia era a culpada pelo que Joe Biden chamou de “um ato deliberado de sabotagem”, prometendo que os EUA trabalhariam com seus aliados “para descobrir exatamente o que  aconteceu”. Com a chegada do inverno, o Kremlin pretendia estrangular o fluxo de energia, um ato de “chantagem”, destinado a intimidar os países europeus a retirarem seu apoio militar à Ucrânia e absterem-se de novas sanções.

Segundo funcionários do governo Biden agora admitem, não há evidências que apontem envolvimento de Moscou. Mas eles fugiram de perguntas sobre quem seria o responsável. Autoridades europeias em vários países sugeriram discretamente que a Ucrânia estava por trás do ataque, mas resistiram em dizer isso publicamente por temer que culpar Kiev pudesse minar a aliança contra a Rússia. Em reuniões da OTAN, há um mantra: “Não fale sobre o Nord Stream”.

A inteligência européia diz que os terroristas não eram autônomos. Eles reportavam a Valery Zaluzhny, oficial militar de mais alta patente do país, colocado no comando do ataque para que Volodymyr Zelensky não soubesse da operação. Manter Zelensky fora do circuito teria dado ao líder ucraniano meios de negar envolvimento em um ataque à infraestrutura civil que poderia inflamar a opinião pública e minar o apoio ocidental à Ucrânia – ainda mais na Alemanha: 50% do gás usado no país chega via Nord Stream.

Enquanto a Gazprom, o conglomerado de gás estatal russo, possui 51% da Nord Stream, as empresas de energia ocidentais, incluindo da Alemanha, França e Holanda, investiram bilhões nos oleodutos. A Ucrânia há muito reclamava que o Nord Stream permitiria que a Rússia contornasse os dutos ucranianos, privando Kiev de enormes receitas.

O resumo da inteligência diz que a operação militar ucraniana foi “suspensa”, por motivos que permanecem obscuros. Os ucranianos planejavam atacar o oleoduto logo após um grande exercício naval da OTAN, batizado como BALTOPS, que ocorreu de 5 a 17 de junho de 2022, segundo o relatório. Mas, de acordo com as autoridades alemãs que investigam o atentado, os principais detalhes dessa operação se alinham com o plano anterior. (…)

A Alemanha agora acredita que seis indivíduos com passaportes falsos alugaram um barco à vela, embarcaram da Alemanha e plantaram explosivos que cortaram os oleodutos. Os agentes eram mergulhadores qualificados, uma vez que os explosivos foram colocados a uma profundidade de cerca de 80 metros, aponta a investigação.

Os investigadores compararam resíduos explosivos encontrados no oleoduto com vestígios encontrados dentro do barco, chamado Andromeda. Ucranianos alugaram o barco usando uma empresa de fachada na Polônia. Os investigadores também suspeitam que pelo menos um militar ucraniano esteja envolvido na operação de sabotagem.

O enredo de junho difere do ataque de setembro em alguns aspectos. O relatório de inteligência europeu observa que os agentes ucranianos planejavam atacar o oleoduto Nord Stream 1, mas não faz menção ao Nord Stream 2, uma linha mais nova. O relatório também diz que os sabotadores embarcariam de um local diferente na Europa, não da Alemanha.

A CIA inicialmente questionou a credibilidade da informação, em parte porque a fonte na Ucrânia que forneceu os detalhes ainda não tinha histórico confiável. O serviço europeu achou a fonte confiável. (…)

O relatório do serviço de inteligência europeu não é a única evidência que aponta para o papel de Kiev no atentado ao oleoduto. Os governos que investigavam as explosões descobriram comunicações que mostravam indivíduos ou entidades pró-Ucrânia discutindo a possibilidade de realizar um ataque aos oleodutos Nord Stream – descoberta feita durante a investigação do ataque.

Apesar de renunciar às sanções da era Trump sobre o gasoduto para consertar as relações com Berlim, o governo Biden há muito nutre preocupações sobre o Nord Stream e não derramou lágrimas pelo atentado. Após meses de pressão de Washington, o governo alemão suspendeu a autorização do Nord Stream 2. No momento do ataque, o gasoduto estava intacto e já havia sido bombeado com 300 milhões de metros cúbicos de gás natural.

Quase um mês antes da ruptura, a gigante energética russa Gazprom interrompeu os fluxos no Nord Stream 1, horas depois que o G7 anunciou um próximo teto de preço para o petróleo russo, uma medida destinada a prejudicar Moscou. Funcionários do governo alemão disseram que o custo de consertar o oleoduto chegava a centenas de milhões.

Embora a inteligência dos EUA estivesse cética em relação aos relatórios europeus, há o temor que as operações agressivas da Ucrânia poderiam transformar a guerra em um conflito direto entre a Rússia e os Estados Unidos e seus aliados da OTAN. Em fevereiro de 2023, a agência de inteligência militar da Ucrânia concordou, “a pedido de Washington”, em adiar ataques planejados contra Moscou. O incidente ilustrou uma tensão mais ampla: a Ucrânia, ansiosa para levar a luta para o território russo, é contida pelos Estados Unidos.

Autoridades em Washington e na Europa advertiram a Ucrânia por ataques fora de seu território. Depois que um carro-bomba perto de Moscou em agosto matou Daria Dugina, em um ataque que parecia destinado a seu pai – um proeminente nacionalista russo – autoridades ocidentais disseram que deixaram claro para Zelensky que isso era responsabilidade da Ucrânia.

Reprodução/Diário do Centro do Mundo

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