Dirigentes explicam como a ingerência do governo nas estatais impactam os Fundos de Pensão
5 de março de 2021 11:28Em um bate-papo no programa “Debatendo a Funcef em 15 minutos”, nesta quinta-feira (4), mediado por Nilson Moura, diretor Sociocultural da Fenae e membro da Fenag, os dirigentes Adenir Marcarini, diretor de Relações Humanas e Relacionamento com Aposentados da Agecef/SC e Moacir Carneio da Costa, diretor de Comunicação da Fenae, explicam como a ingerência do governo nas Estatais impactam os Fundos de Pensão e o mercado financeiro.
Em sua 5ª edição, este espaço criado pela Fenae e Fenag e que tem a finalidade de esclarecer diversos assuntos pertinentes ao universo do empregado Caixa e participantes da Funcef, destacou o impacto negativo no mercado que a ingerência do governo nas empesas públicas pode causar.
Segundo Moacir, do ponto de vista financeiro essa interferência do governo tem influenciado negativamente o preço das ações e consequentemente no resultado das empresas. Para ele, o governo deveria ter muito cuidado, porque existe uma regulação do mercado e essa ingerência pode ser vista como ações especulativas, como balões de ensaio. “No momento em que uma empresa é colocada à venda, ainda que com a oferta também do bloco de controle, de uma só vez, acaba sendo um volume muito grande de ações que é ofertado no mercado. Se por um lado, isso causa desejo do mercado de comprar, por outro lado essa enxurrada de ações acaba fazendo com que o preço das mesmas caia. Então, além de tudo, num momento de pandemia a gente questiona se é o momento de fazer a oferta de ações de estatais para vender. Isso sem falar da questão estratégica das Estatais para o desenvolvimento e a manutenção da atividade econômica no Brasil”, disse.
De acordo com Adenir, no decorrer da última semana onde foi possível observar a intervenção do governo em algumas Estatais, foi gerada uma certa apreensão do ponto de vista do impacto nos papéis que a Funcef investe, entre os quais estão o Banco do Brasil, o BB Seguridade, a Petrobrás, empresas de saneamento básico e do setor elétrico. “Sempre que o mercado percebe ingerência nessas empresas, que são listadas em bolsas de valores, especialmente os investidores estrangeiros não vêm com bons olhos esta situação, tanto de ingerência, como manipulação, corrupção ou mesmo quando ocorrem deslizes do ponto de vista da governança. Imediatamente se percebe o impacto nesses papéis. Quando o mercado percebe algo desse tipo, já precifica descontando o valor daquele ativo, considerando essa ingerência negativa para o ativo em questão”, explicou Adenir, que ainda citou os exemplos dos casos da Petrobrás e do Banco do Brasil, onde recentemente foram substituídos seus presidentes.
Impactos na Funcef existem, mas números não são vultuosos
Diante deste cenário, estas intercorrências governamentais causam enormes preocupações aos participantes da Funcef. Porém, segundo Adenir o impacto existe, mas os números não são tão vultuosos. O dirigente citou o exemplo do benefício saldado, que é o maior administrado pela Funcef. Do total, de aproximadamente R$ 70 bilhões (dados de 2019), R$ 44 bi estão ligados ao benefício saldado. “Se considerarmos esses R$ 44 bi de patrimônio, gerador de benefício administrado pela Fundação, tem R$ 320 milhões alocados para a Petrobrás. Na área de saneamento, tem em torno de R$ 50 milhões e na área de energia algo em torno de R$ 25 milhões. Se a gente analisar as estatais listadas das quais a Funcef tem investido, como por exemplo, o Banrisul tem R$ 5 milhões, BB Seguridade, em torno de R$ 23 milhões, a Braskem, cujo 50% pertence a Petrobrás e 50% pertence a Odebrech, tem R$ 5 milhões e a Elotrobrás em tono de R$ 8 milhões. Então, o efeito existe, porém não é tão impactante por conta da diluição dos investimentos que foram feitos e acabam, dentro do aspecto da diversificação, não tendo tanto impacto para os números dos planos da Funcef”, ponderou.
Já outra questão abordada por Moacir foi a de que em relação ao mercado, os investimentos que a Funcef tem nestes ativos, não são tão significantes, entretanto como a Petrobrás é a maior empresa do Brasil ela acaba puxando o índice da bolsa e também o petróleo por ser uma commodoties de cadeia longa, acaba impactando em outros ativos. “Então diretamente a gente não precisa se preocupar tanto, mas indiretamente a gente precisa ter medidas de contraposição para se vacinar para essas variações que podem acontecer”, ressalta o dirigente.
Como a Funcef pode se blindar estas medidas governamentais?
Para Adenir esta pergunta é do bilhão. Todo mundo quer ter bons investimentos, boa rentabilidade no curto, médio e longo prazos e sempre com o menor risco possível. Então, quando se pensa em investimento se pensa em mitigar o risco para não prejudicar o retorno e aferir boas rentabilidades. “O que a gente precisa muito na Funcef é acabar com os equacionamentos, trazer de fato ganho real para o nosso reajuste, acima da inflação. Ou seja, precisamos trazer excedentes financeiros que nos permitam essas condições. Para mitigar estes riscos precisa trabalhar com diversificação, ou seja, não investir apenas em um papel, visto que é preocupante hoje nós estarmos com grande concentração de papéis na Vale, que está atingindo patamares históricos de cotação do ativo”, apontou o dirigente e acrescentou que segundo grandes economistas, como Marcovitch, a diversificação é o único lanche grátis que temos no mercado financeiro, em que é possível minimizar o risco ao longo prazo e está provado matematicamente que se maximiza os ganhos.
O Ministro Paulo Guedes afirmou que a economia do país começaria a crescer em V. Ele se referia a uma curva em que a economia vinha caindo, caindo e em novembro passado ela inverteria e passaria a subir quase na vertical. Moacir citou esse exemplo para demonstrar os investimentos em J. “Um investimento que a gente costuma dizer é a curva J, que são aqueles quando você tem um período de investimentos e depois ele começa a performática, a rentabilização ocorre por um tempo mais longo que o do investimento, como é o caso de hidrelétricas e siderúrgicas que são investimentos de grande volume, mas também de alta atratividade com taxas bem acima da meta atuarial. Isso, para uma pessoa física não é interessante, mas para a Funcef que tem benefícios para pagar daqui 30, 40 e 50 anos, seria bastante interessante, além do investimento no exterior, por conta da proteção das variações cambiais. Por isso, esses Fips e esses investimentos que a Fundação ainda não ensaiou fazer em moeda estrangeira seria interessante”, disse e conclui o debate com a seguinte reflexão: “Em meio a um cenário turbulento e a incompetência de alguns governantes, as empresas públicas continuam fazendo muito pelo Brasil”.
Fonte: Fenae / Foto: Fenae