Combate ao assédio nas empresas é tema de debate constante na Fenae
28 de junho de 2023 10:26No dia em que se completa um ano de divulgação das denúncias de assédio sexual na Caixa, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) reforça a importância da denúncia e do debate sobre o assunto. Scarlett Rodrigues, mestre em políticas públicas, especialista em direitos humanos, foi uma das convidadas do #ProntoFalei 2023 da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae). Ela falou sobre “Combate ao assédio e democracia” no ambiente de trabalho. O evento foi realizado dia 14 de junho, no Teatro Oficina, em São Paulo (SP).
“Como defensora dos direitos humanos, que é um dos pilares centrais e estratégicos para a manutenção da democracia, se a gente tem direitos sendo feridos cotidianamente, logo a gente não tem um sistema democrático. Não temos, na prática, um estado democrático de direito”, informou Scarlett.
De acordo com ela, para que o assédio moral e sexual no local de trabalho seja, de fato, combatido, as empresas precisam de um canal de denúncias robusto, antidiscriminatório, “para que aquela pessoa que faça a denúncia, não seja retalhada, demitida, porque a corda sempre estoura para o lado mais fraco”, segundo ela. Além disso, as corporações precisam realizar diagnósticos e mapeamentos de risco; de representatividade, principalmente feminina e negra nos espaços de tomada de decisão.
Sobre este público, de mulheres negras nas empresas, a mestre em políticas públicas e especialista em direitos humanos, apresentou dados da Think Eva, que diz que 52% das mulheres que sofreram assédio sexual no Brasil são negras. A pesquisa mostrou também que mulheres negras têm 13% a mais de chance de sofrerem assédio sexual no trabalho no. “Isso tem a ver com racismo estrutural, com a objetificação dos corpos negros, com a naturalização da violência contra corpos negros”, apresentou Scarlett, que também mostrou que temos, hoje, no Brasil, mais de 50 mil casos de assédio sendo denunciados. Desses, 30 mil são de assédio sexual.
A atuação de Scarlett Rodrigues na área dos direitos humanos é voltada para as empresas, porque, segundo ela, elas são responsáveis pela manutenção desse poder na sociedade. “As empresas detêm o poder da riqueza, do trabalho. Se ela não nos garante esse espaço respeitoso, acolhedor, seguro, inclusivo, ela está perpetuando essa violência, perpetuando desigualdades. As empresas se beneficiam da manutenção de poder. Mas elas têm o poder de transformar também”, garantiu.
Outro dado apresentado pela convidada do evento foi da Controladoria Geral da União (CGU). Dos 905 processos sobre assédio sexual, apenas 65,7% foram concluídos sem punição e sem responsabilização de quem cometeu o assédio.
“A gente está falando de relação de poder, pois assédio é uma ferramenta. Ele vem manifestado de machismo, racismo, homofobia e outros processos. A gente precisa identificar esses gargalos dentro das empresas. Por isso, insisto que, para combater violências dentro das empresas, a gente precisa trazer a representatividade para os espaços de tomada de decisão, de poder. Tem muita chance de se combater, mas precisa de muita vontade política e institucional”, afirmou Scarlett.
Para ela, muitas vezes, denúncias internas não resolvem. “Precisa a corda estourar, rodar na mídia, para que de fato a gente consiga combater alguma coisa. Quantas mulheres saíram da Caixa, por exemplo [com as denúncias de assédio realizadas no ano passado contra o ex-presidente do banco Pedro Guimarães] porque ela denunciou e ficou com medo, e aquilo abalou psicologicamente a estrutura mental. Como essa mulher vai entrar no outro emprego?”, finalizou.
Confira, na íntegra, a participação de Scarlett Rodrigues e de demais convidados no #ProntoFalei:
Reprodução/Fenae