Bolsonaro estuda usar “Twitter Files Brazil”, de Musk, para tentar reverter inelegibilidade

10 de abril de 2024 10:12

Em mais uma mostra da articulação coordenada nos ataques de Elon Musk à democracia brasileira, a defesa de Jair Bolsonaro (PL) estuda usar os chamados “Twitter Files Brazil”, que motivaram o levante do bilionário, como “fato novo” para tentar reverter as decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que deixaram o ex-presidente inelegível até 2030.

Segundo Bela Megale, no jornal O Globo, a ideia é discutida pelos advogados de Bolsonaro, que pretendem “surfar na onda” dos ataques do bilionário ao ministro, à democracia e ao presidente Lula nas redes.

No entanto, a defesa busca ter acesso a todo material que foi divulgado em parte pelo jornalista americano Michael Shellenberger, em sua conta no X (antigo Twitter). 

Shellenberger acusa Moraes de intervir em publicações de parlamentares bolsonaristas e solicitar dados de usuários. Os arquivos ainda revelam suposta troca de e-mails entre funcionários do X relatando pressão da justiça brasileira.

No entanto, a defesa de Bolsonaro, segundo a jornalista, se divide por medo de Alexandre de Moraes, que comanda o TSE até 3 de junho.

Moraes impõe derrota ao X

A divulgação dos chamados “Twitter Files Brazil” motivou os ataques de Musk à democracia brasileira e inceNdiou a ultradireita bolsonarista.

Após os ataques do bilionário, que foi incluído por Moraes no inquérito das fake news, Bolsonaro divulgou um vídeo de um encontro em que diz que “Elon Musk é o mito da nossa liberdade”.

https://x.com/jairbolsonaro/status/1776779948419617170

Nesta terça-feira (9), o ministro do STF impôs uma derrota ao bilionário ao negar uma exigência do escritório da rede ‘X’ no Brasil para que processos contra a plataforma não fossem direcionadas à representação brasileira da empresa, mas sim remetidos à matriz da companhia, nos EUA.

Na decisão, Moraes salientou que a atitude do ‘X’ de pedir para não ser responsabilizado no Brasil pelas ações da empresa e de seu dono, uma vez que o Judiciário brasileiro não tem jurisdição no exterior, “beira a litigância de má-fé”.

“Não há dúvidas da plena e integral responsabilidade jurídica, civil e administrativa da X Brasil Internet Ltda., bem como de seus representantes legais, inclusive no tocante a eventual responsabilidade penal, perante a Justiça brasileira”, disse Moraes em sua decisão que negou o pedido da companhia de Elon Musk.

O ministro, no fim de sua decisão, deixou claro que o objetivo do ‘X’ é simplesmente seguir impune, reivindicando uma espécie de imunidade para fazer o que bem entende no Brasil e não poder receber processos judiciais.

“Em última análise, a empresa requerente busca uma verdadeira cláusula de imunidade jurisdicional, para a qual não há qualquer previsão na ordem jurídica nacional. Pelo contrário: o fato de que uma das chamadas operadoras internacionais compõe o seu quadro social sugere um abuso da personalidade jurídica, pois poderia optar por não atender às determinações da Justiça brasileira sem sofrer qualquer consequência, encoberta por sua representante no Brasil”, concluiu Moraes.

Articulação internacional

Em turnê pela Europa com Bia Kicis (PL-DF) e Gustavo Gayer (PL-GO) para denunciar a “ditadura” no Brasil, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se encontrou nesta terça-feira (9) com Hermann Tertsch, deputado espanhol do ultradireitista Vox no Parlamento Europeu.

Terstch filho do diplomata e jornalista austríaco Ekkehard Tertsch, que trabalhou com Josef Hans Lazar, que é considerado o porta-voz de Adolph Hitler durante a Ditadura do “caudillo” Francisco Franco, que durou de 1939 a 1975.

Poucas horas antes de encontrar o filho de Jair Bolsonaro (PL), Tertsch juntou-se à articulação internacional fascista, capitaneada pelo bilionário Elon Musk, contra a democracia brasileira, em ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e Lula.

A caminho da Europa, Eduardo Bolsonaro foi às redes sociais nesta terça-feira (9) para tentar se justificar sobre reportagem da Fórum sobre a articulação internacional em torno do levante do bilionário Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), à democracia brasileira e, mais recentemente, ao presidente Lula.

“Eu jamais falei com Elon Musk, por exemplo, mas admiro a sua coragem e concordo muito que ‘valores importam mais do que lucro'”, diz o deputado, em consonância com a narrativa do bilionário, que patrocinou golpe na Bolívia em 2019 e que afirmou que “vamos dar golpe em quem quisermos” um ano depois.

Na reportagem de Marcelo Hailer, a Fórum aponta fatos que mostram que há, realmente, um elo global em torno da narrativa bolsonarista. 

Algumas horas após os ataques de Elon Musk, o líder do Chega!, partido da extrema direita portuguesa, André Ventura, publicou um vídeo com ataques ao Brasil e ao ministro Alexandre de Moraes, o qual foi compartilhado por Eduardo Bolsonaro com a seguinte frase: “Nossa liberdade não está em risco, já é diariamente violada”.

Líder d’O Movimento – a internacional fascista de Steve Bannon – na América Latina, o filho “03” de Bolsonaro também compartilhou uma publicação de Santiago Abascal, líder do VOX, partido de extrema direita da Espanha. Na publicação, Abascal repete o discurso de Ventura e afirma que “Alexandre de Moraes é o carcereiro preferido de Lula”.

Na Europa, Eduardo deve encontrar os dois líderes extremistas. Mas, na rede X, o deputado delira e diz que a “articulação coordenada internacional”, como concluiu o Instituto Democracia em Xeque em estudo, é apenas uma “narrativa” da Fórum com a jornalista da GloboNews (Ex-CNN Brasil), Daniela Lima.

Após a reportagem da Fórum, a jornalista também citou a articulação de Eduardo nos ataques de Musk à democracia.

“Orquestrada é a ação da Fórum com Daniela Lima da CNN Brasil (SIC), que cria narrativa para talvez me dragar para alguma investigação e bloquear minhas missões internacionais apreendendo meu passaporte injustificadamente. Nada por acaso. A narrativa sempre precede a ação judicial”, diz o deputado, a caminho da Europa.

Eduardo ainda busca se vitimizar, dizendo que parte da Fórum – e não de diversos inquéritos criminais – a “perseguição” a seu pai.

“A Revista Fórum alimentar este devaneio só fará crescer a intolerância e delírio daqueles que nos perseguem, tal qual acreditam que meu pai tinha um “gabinete do ódio”, aparato preordenado a disparar fake news. Mas nunca dizem quais fake news, ninguém as recebe em seus celulares, há investigações abertas há anos, mandados judiciais cumpridos pela Polícia Federal e nada se conclui, apenas alimentam narrativas. Trata-se da imprensa negacionista que não admite que temos apoiadores, um movimento popular espontâneo e voluntário – é isto que incomoda e o que desejam extinguir com tanta perseguição”, diz o filho de Bolsonaro.

Eduardo ainda afirmou que apenas alertou que Alexandre de Moraes está incluindo nas investigações “americanos influentes e próximos de Donald Trump”, ex-presidente dos EUA, ídolo do clã Bolsonaro.

Foto: Reprodução/Rede X

Reprodução/Revista Fórum

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