Bolsonaro afina de ato pelo impeachment de Moraes em meio à chantagem ao STF

28 de agosto de 2024 13:07

Em meio à negociata conduzida por “interlocutores”, que tentam fazer chantagem com o Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro (PL) sinalizou que não deve comparecer ao ato convocado por Silas Malafaia e aliados extremistas para o dia 7 de Setembro com o objetivo de pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Os filhos e o próprio ex-presidente já estariam sinalizando aos aliados próximos que ele não irá à manifestação, segundo a jornalista Bela Megale, no jornal o Globo.

O motivo seria justamente a chantagem conduzida pelos “interlocutores”, que teriam proposto uma barganha: Moraes arquiva a investigação sobre as joias e, em troca, Bolsonaro atua para desmobilizar a horda de extremistas do ato no 7 de Setembro.

“O principal argumento é o tom belicoso que convidados e organizadores da manifestação já têm adotado contra o STF e seus magistrados”, diz a jornalista d’O Globo, sinalizando que a ordem para barrar Bolsonaro teria partido dos interlocutores “que fazem a ponte do capitão reformado com a corte”.

Caso seja confirmada a decisão, seria o segundo recuo em um 7 de Setembro do ex-presidente. Há 3 anos, em ato na Paulista, Bolsonaro xingou Moraes de “canalha” e disse que não cumpriria mais as decisões judiciais do ministro.

No entanto, na semana seguinte procurou seu antecessor, o golpista Michel Temer (MDB), para escrever uma carta se desculpando ao ministro do STF.

Chantagem

Enquanto articula um novo golpe nos bastidores para tentar reverter sua inelegibilidade, Bolsonaro colocou aliadas de sua confiança para tentar chantagear o STF.

Segundo a coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, “aliados de Bolsonaro passaram a defender, junto a membros do STF, que convençam Moraes a fazer um gesto ao ex-presidente, como o arquivamento de uma das ações que miram Bolsonaro”.

Em troca, a cúpula neofascista agiria para desmobilizar a horda extremista e, assim, esvaziar o ato pelo impeachment de Moraes.

A reportagem diz que a chantagem está sendo feita por “interlocutores de Jair Bolsonaro que atuam como bombeiros entre o ex-presidente e o STF”.

“A leitura é que, casos apontados pelos próprios ministros como menos graves envolvendo o capitão reformado, como a investigação sobre falsificação do certificado de vacinas ou das joias da Arábia Saudita, poderiam ter esse caminho”, diz o texto, sinalizando que o pedido é para arquivar a investigação sobre furto e contrabando de presentes recebidos pelo governo brasileiro para serem vendidos nos EUA.

Interlocutores?

Ainda segundo a reportagem, na negociata, esses “interlocutores” teriam dado aval para que a investigação sobre a tentativa de golpe seguiria avançando, com potencial de colocar Bolsonaro atrás das grades.

“A avaliação deles é que esse inquérito, que tem chance de culminar em uma ordem de prisão de Bolsonaro depois do trânsito em julgado, é ‘intocável e inegociável’”, diz a jornalista d’O Globo.

Essa não é a primeira vez que Moraes sofre pressão para abrandar os inquéritos relacionados ao ex-presidente. 

No mesmo jornal O Globo, em 18 de maio deste ano, Malu Gaspar fala de um encontro para pressionar Moraes a recuar nas investigações.

A reunião para pressionar Moraes teria sido articulada pelo advogado Eduardo Kuntz, que mais recentemente adotou a defesa de Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) e dono do celular de onde teriam vazado as conversas usadas pela Folha e Glenn Greenwald sobre a “atuação fora do rito” do ministro do STF.

Ligado a Michel Temer (MDB), Eduardo Kuntz tem trânsito no meio militar e faz a defesa, entre outros, de dois ex-assessores alvos de inquéritos envolvendo Jair Bolsonaro (PL): o coronel do Exército Marcelo Câmara, membro da organização criminosa descrita no inquérito dos atos golpistas; e o  capitão de corveta Marcela da Silva Vieira, que foi preso nas investigações sobre o furto de joias da Presidência. 

Chefe de gabinete adjunto de Documentação Histórica da Presidência – responsável, entre outros, pelas joias e presentes – durante o mandato de Bolsonaro, Marcelo Vieira foi nomeado para a função por Michel Temer (MDB) em 2017.

Kuntz também atuou na defesa de outros bolsonaristas acusados de atuar na Organização Criminosa de Bolsonaro, como Tércio Arnaud, que comandou o Gabinete do Ódio, e Fabio Wajngarten, que se afastou do corpo de advogados do ex-presidente ao ser indiciado na quadrilha de furto de joias.

Segundo Malu Gaspar, a decisão de Moraes de soltar Câmara – braço direito do tenente-coronel Mauro Cid – se deu após Tarcísio, Temer e o comandante do Exército, Tomás Paiva, procurarem o ministro dizendo que ele “precisava começar a ‘calibrar’ suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita”.

“Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3 [de abril de 2024]”, diz a jornalista d’O Globo.

Ainda segundo Malu Gaspar, “a soltura de Câmara também entrou no ‘pacote’ que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no TSE.

“Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a Procuradoria-Geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro”, segue a jornalista, em referência à nomeação de Paulo Sergio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do MP-SP, para a Procuradoria-Geral do Estado. Terceiro na lista tríplice, o novo PGE teria forte ligação e foi indicado a Tarcísio por Moraes.

Foto de capa: Reprodução/Youtube

Reprodução/Revista Fórum

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