PASTOS

30 de outubro de 2020 16:37 | Publicado por Leandro Fortes

O termo “gado bolsonarista” traz uma contradição em si, pois se se deriva da analogia com a resignação bovina diante dos fatos, destoa da reação pacífica que se espera das boiadas. No pasto bolsonarista, as reses ruminam rações diárias de ódio a elas dadas, nas redes sociais, na crença de que, integradas à manada, não serão abatidas pela ideologia destrutiva que emana – desde sempre – da Casa Grande.

Trata-se, portanto, de um gado violento, posto que a serviço de um projeto de degradação ostensiva da institucionalidade, firmado nas bases mais dogmáticas do fascismo político: o anti-intelectualismo, anticientificismo e o antiacademicismo, uma espécie de tripé contra civilizatório vendido antes como uma revanche dos medíocres do que como uma solução social, esta, obviamente, inviabilizada, a priori.

Essa hostilidade ao pensamento crítico e filosófico, característica clássica do nazifascismo, está, contudo, na base do debate sobre o uso e a obrigatoriedade de vacinas, e não apenas as que se projetam contra a Covid-19. Isso porque o efeito hiperimbecilizante do fluxo de informações das redes sociais sobre um enorme contingente de analfabetos políticos, sobretudo as mensagens disseminadas em grupos de WhatsApp, impôs sobre a lógica científica um sistema de crenças pessoais e coletivas onde os processos de relativização se tornaram, ora anárquicos, ora ininteligíveis.

O resultado dessa jornada semicognitiva foi o surgimento de um estrato social numericamente relevante e extremamente orgulhoso da própria ignorância, a qual defende diuturna e irascivelmente com base em argumentos enviesados quase sempre recolhidos junto ordenadores de notícias falsas. Estes que atuam alegremente nesse campo fértil de demência coletiva que se convencionou chamar de “bolsonarismo”.

Assim, pessoas que nunca tiveram o hábito da leitura e passaram a vida anestesiadas por telenovelas, jogos de futebol e apavoramentos circunstanciais provocados pelo Jornal Nacional, estão, agora, no centro das discussões sobre o uso de vacinas contra a mais grave pandemia da história da humanidade.

Haja mamadeira de piroca.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *