JUDAICO-CRISTÃOS

7 de novembro de 2019 11:16 | Publicado por Leandro Fortes

Toda vez que a boquinha desarmônica de Bolsonaro pronuncia a expressão “tradição judaico-cristã” para justificar aberrações cognitivas de certa narrativa conservadora, uma certeza emerge, inexorável: ele não tem a menor ideia do que está falando.

Repete, como papagaio, um pseudoconceito cultural criado pelos neocons americanos para justificar a ligação política dos Estados Unidos com o sionismo e a manutenção do Estado de Israel como posto avançado das aspirações imperialistas, no Oriente Médio.

A expressão é repetida, aleatoriamente, e dentro do mesmo modo de ignorância sequencial, tanto por Bolsonaro como pelos filhos, todos influenciados pela construção litúrgica do conceito feita por Olavo Carvalho, guru da família autointitulado “filósofo”, mas que não passa de um idiota instruído com grande poder de influência entre o gado bolsonarista, dentro e fora do governo.

“Judaico-cristã” tornou-se pilar de outra construção teórica discutível – a da “civilização ocidental” – a ponto de derivar um conceito ainda mais fantasioso, o da “civilização ocidental judaico-cristã”: terminologia que tem servido como bandeira de enfrentamento a um comunismo ilusório a serviço de certo “globalismo”, até aqui definido como uma ameaça às certezas dos terraplanistas, ora no poder.

Recentemente, Roberto Alvim, preposto de Bolsonaro no Centro de Artes Cênicas da Funarte, escreveu nas redes sociais, sobre os artistas brasileiros: “Mentem diariamente, deturpando os valores mais nobres de nossa civilização, propagando suas nefastas agendas progressistas, denegrindo nossa sagrada herança judaico-cristã”.

A não ser que a sagrada herança judaico-cristã a que ele se refere seja a Santa Inquisição – que queimava judeus –, Alvim é apenas um exemplo perigoso de como um conceito inventado, na boca de idiotas, pode se tornar uma arma do fascismo.

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