DEMÔNIOS
2 de abril de 2020 17:12 |O maior problema de Bolsonaro, no espectro da governança, é não ter opinião balizada sobre nada. A todo o momento, noticia-se, cá e acolá, que ele fez tal coisa ouvindo um interlocutor diferente, seja o cartomante Olavo de Carvalho ou, com frequência assustadora, o filho 03, o mentecapto Carluxo. Faz sentido: quando está por conta própria, assediado pela claque de idiotas plantada no Palácio da Alvorada, o presidente parece replicar uma legião de demônios.
Assim, enquanto constrói a imagem de presidente mais patético da história da República, Bolsonaro tem alternado conselhos dados ora por generais – aqueles que ele ainda não humilhou e traiu – ora por Carluxo, a genial eminência parda que vê na pandemia do Covid-19 uma conspiração chinesa para a implantação do socialismo, no Brasil.
O discurso de 31 de março, mais moderado e racional, ao que parece, foi um conselho de general Villas Boas, ex-comandante do Exército em governos petistas, também como forma de Bolsonaro se reencontrar com a cúpula militar, antes de cair no isolamento total.
Pareceu um movimento sensato, até, 12 horas depois, o presidente replicar uma notícia falsa sobre desabastecimento na Ceasa de Minas Gerais – aliás, uma estatal federal – para acusar governadores de promover fome e desemprego, ao adotar o isolamento social da população. Ninguém tem dúvida de que o vídeo, postado na conta de Twitter de Bolsonaro, foi uma ação de Carluxo.
O surto de racionalidade do presidente, em 31 de março, no mesmo dia em que o vice Hamilton Mourão enaltecia, publicamente, o golpe militar de 1964, parece ter sido, portanto, um ponto fora da curva. Ao que parece, Bolsonaro vai continuar dando mais ouvido a Carluxo do que aos generais. O 03 acaba de ganhar uma sala, ao lado do pai, no Palácio do Planalto, por ora transformado em uma espécie de hospício familiar.