BRASIL, COLÔNIA
30 de setembro de 2019 15:06 |Os recentes elogios do general
Hamilton Mourão, vice-presidente da República, a bandeirantes e
donatários tem um simbolismo duplamente deplorável.
Essencialmente,
Mourão reforça a ideia de que as entradas e bandeiras, as primeiras,
expedições patrocinadas pelo reino de Portugal, as segundas, por
mercadores privados, foram um movimento civilizatório – e não a barbárie
de violência, ganância e escravidão que realmente foram, nos séculos
XVI e XVII.
Como pano de
fundo, o elogio do general, ele mesmo, um caboclo miscigenado de fortes
traços indígenas, reflete a submissão doutrinária do militares à
narrativa histórica oficial. Aliás, sem surpresa alguma: na campanha
eleitoral de 2018, Mourão disse que o brasileiro herdou a “indolência”
do índio e a “malandragem” do africano.
Um
oficial general repetir esse cantilena racista, no alvorecer do século
XXI, é, antes de tudo, um desalento. Mas explica muito da inércia do
Exército e, por extensão, das Forças Armadas, diante da destruição moral
e patrimonial do Brasil, promovida pelo governo do qual Mourão é
vice-presidente.
Mourão é
a antítese do militar nacionalista, essa figura mítica que, por anos,
habitou o imaginário popular da esquerda brasileira.
Não
por outra razão, repete, como um papagaio, o discurso das elites
nacionais que construíram o mito do bandeirante desbravador e do
donatário empreendedor obrigados a conviver com a indolência dos índios e
a malandragem dos negros por eles escravizados e esfolados, sertão
adentro.
É esse tipo de militar que anos de isolamento e de não intervenção civil na caserna geraram: o ignorante motivado.