EUA citam intransigência de Putin e impõem sanções ao petróleo russo

23 de outubro de 2025 09:10

Os EUA impuseram ontem sanções a duas das maiores empresas de energia da Rússia – Rosneft e Lukoil. São as primeiras sanções ao país desde que Donald Trump voltou à Casa Branca, em janeiro. A justificativa, segundo o governo americano, é a intransigência de Vladimir Putin, que se recusa a negociar o fim da guerra na Ucrânia.

Ao tentar cortar importantes receitas que alimentam a máquina de guerra russa, o presidente americano demonstra impaciência com a estratégia de Putin de protelar as negociações, ganhando mais terreno no campo de batalha para negociar um acordo de paz em uma posição mais sólida no futuro.

A medida contra a Rússia marca a mais recente mudança de direção de Trump, que já tentou coagir a Ucrânia, chegou a pedir um cessar-fogo e foi se irritando cada vez mais com as exigências excessivas de Putin. “Agora, é hora de parar com a matança e de um cessar-fogo imediato”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, ao anunciar as sanções.

“Dada a recusa de Putin em encerrar esta guerra sem sentido, o Tesouro está punindo as duas maiores empresas petrolíferas da Rússia que financiam a máquina de guerra do Kremlin. Estamos preparados para tomar medidas adicionais, se necessário, para apoiar os esforços do presidente Trump para encerrar mais uma guerra. Incentivamos nossos aliados a se juntarem a nós e a aderirem a essas sanções.

“O governo britânico impôs sanções às duas empresas na semana passada. A União Europeia puniu a Rosneft, que é estatal, mas não a Lukoil, de capital privado, em grande parte devido às objeções da Hungria e Eslováquia, que compram petróleo russo.

Cúpula

Ontem, no Salão Oval ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, Trump também confirmou o cancelamento da cúpula planejada com Putin, que seria realizada na Hungria, em mais um sinal do colapso das negociações com Moscou. “Cancelamos a reunião”, disse o presidente americano. “Não me pareceu certo. Não parecia que chegaríamos aonde precisávamos, então cancelei. Mas faremos outra no futuro.

“Uma reportagem publicada ontem pelo Wall Street Journal garantiu que a Casa Branca havia autorizado a Ucrânia a disparar mísseis de cruzeiro Storm Shadow, fornecidos pelo Reino Unido, aumentando a capacidade de atingir o território russo. Trump, no entanto, negou o aval. “A matéria do Wall Street Journal é falsa”, escreveu o presidente nas redes sociais. “Os EUA não têm nada a ver com esses mísseis ou com o que a Ucrânia faz com eles.”Até então, a única medida hostil à Rússia imposta por Trump havia sido uma tarifa de 25% sobre produtos da Índia, em resposta à compra de petróleo russo.

A falta de ação contrasta com o governo de Joe Biden, que impôs aos russos, em média, 170 novas sanções por mês, entre 2022 e 2024, restringindo a produção de armas, aquisição de tecnologia e atividades bancárias, bloqueando mais de 6,2 mil indivíduos, empresas, embarcações e aeronaves ligadas à Rússia.

“Isso ainda não está resolvido”, disse Edward Fishman, pesquisador da Universidade Columbia. Para ele, a questão agora é saber se haverá ou não sanções secundárias, a quem fizer negócios com a Rosneft e a Lukoil. Elas estão previstas no texto divulgado ontem pelo Tesouro, mas cabe ao governo americano decidir se vale a pena ou não aplicar a medida e afetar alianças importantes, como Índia, Emirados Árabes, Hungria e Brasil que importa diesel da Rússia.

O anúncio não deixa de ser uma vitória para a Ucrânia e seus aliados europeus, que observavam com preocupação a proximidade entre Trump e Putin. O presidente americano chegou a dizer que a única maneira de alcançar a paz seria a Ucrânia ceder território e limitar a cooperação militar e econômica com Europa e EUA.

“Ato de guerra”

Dmitry Medvedev, vice-chefe do conselho consultivo de segurança de Putin: “ato de guerra”. Foto: Sputnik/Yulia Zyryanova/Pool via Reuters.

O ex-presidente russo, Dmitry Medvedev, declarou nesta quinta-feira, 23, que agora estava absolutamente claro que os Estados Unidos são adversários da Rússia e que as recentes medidas do presidente americano, Donald Trump, em relação à Ucrânia equivaliam a um ato de guerra contra os russos.

Trump afirmou durante a campanha eleitoral americana que encerraria rapidamente a guerra na Ucrânia, que seu governo classificou como uma “guerra por procuração” entre Washington e Moscou, embora tenha recentemente expressado frustração com o presidente Vladimir Putin.

O americano, que descreveu a Rússia como um “tigre de papel”, disse na quarta-feira, 22, que havia cancelado uma cúpula planejada com Putin, e o Tesouro dos EUA impôs sanções a duas das maiores empresas petrolíferas da Rússia.

“Os Estados Unidos são nossos adversários, e seu ‘pacificador’ tagarela agora embarcou totalmente em pé de guerra com a Rússia”, escreveu Medvedev, que atua como vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, no aplicativo de mensagens Telegram, se referindo a Trump.

“As decisões tomadas são um ato de guerra contra a Rússia. E agora Trump se alinhou totalmente com a Europa maluca.”

Putin, líder supremo desde 1999, continua sendo a voz final na política russa, embora Medvedev, um falcão que tem repetidamente provocado Trump nas redes sociais, transmita uma ideia de linha dura dentro da elite.

  • Donald Trump e as sanções à Rússia, após reunião com o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte. Foto: Mark Schiefelbein/AP
  • Fontes: O Estado de S.Paulo/CNN Brasil, com agências internacionais

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