Abalo colombiano: explosões deixam ao menos sete mortos e reacendem temor de recrudescimento da violência política

11 de junho de 2025 11:57

 A Colômbia foi sacudida nesta terça-feira (10) por uma série de atentados violentos que deixaram ao menos sete mortos e 28 feridos, ampliando o clima de tensão e insegurança no país. As ações, que ocorreram de forma coordenada em diferentes cidades da região sudoeste, como Cali, Jamundí, Corinto e Buenaventura, envolvem explosões de carros-bomba, moto-bombas e ataques armados a instalações públicas e civis. Segundo as autoridades colombianas, trata-se de uma ofensiva deliberada conduzida pelo “Estado-Maior Central” (EMC), a principal facção dissidente das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), hoje fora do processo de paz.

Soldado caminha ao lado de motocicletas após explosão em Cali, na Colômbia, em 10 de junho de 2025. Foto: AP/Santiago Saldarriaga

Os atentados ocorreram em pelo menos 19 pontos diferentes, sendo o caso mais grave registrado em Jamundí, onde a explosão de um carro-bomba matou três civis. Outras quatro vítimas fatais — entre elas dois policiais — morreram em decorrência de ataques em Cali e nas demais localidades. A explosão de uma moto-bomba em frente à sede da polícia em Corinto, no Cauca, causou pânico entre moradores e comerciantes. “Pensei que era um terremoto, minha padaria ficou destruída”, relatou Luz Amparo Hincapié, moradora da cidade, ao canal local Caracol.

As ações violentas são vistas como uma resposta do EMC à recente ofensiva das Forças Armadas colombianas nas regiões de Micay e Serra de Nariño, territórios controlados por dissidentes armados. As investidas também coincidem com o aniversário de morte de Leider Johany Noscué, conhecido como “Mayimbú”, um dos principais comandantes da dissidência, morto em 2022 pelas forças de segurança.

Policiais trabalham no local de uma explosão que teve como alvo uma delegacia de polícia em Cali, Colômbia. O sudoeste da Colômbia foi abalado por uma série de explosões e ataques a tiros. Foto: Christian Escobarmora/AFP

O ministro da Defesa da Colômbia, Pedro Sánchez, classificou os ataques como “atos terroristas coordenados” e afirmou que o governo não recuará na luta contra os grupos armados ilegais. O diretor da Polícia Nacional, general Carlos Triana, reforçou que o objetivo dos atentados foi “semear o caos e desafiar o Estado”, e garantiu que operações de segurança foram reforçadas na região afetada.

As ações também geraram reações imediatas entre as autoridades locais. O prefeito de Cali, Alejandro Eder, condenou os atentados e pediu apoio ao governo federal para conter a escalada da violência. Ruas próximas a delegacias e centros administrativos foram bloqueadas, e houve reforço da presença militar nas cidades atingidas.

Além da ofensiva armada do EMC, o país ainda vive sob o impacto da tentativa de assassinato do senador e pré-candidato presidencial Miguel Uribe Turbay, baleado no último sábado (7) em Bogotá por um adolescente de 14 anos. O político segue internado em estado grave. Embora o atentado ao senador não tenha sido reivindicado por nenhum grupo armado, o episódio reacendeu o debate sobre a segurança de figuras públicas e o risco de retorno à violência política que marcou a Colômbia nas décadas de 1980 e 1990.

O presidente Gustavo Petro afirmou em pronunciamento que determinou uma investigação rigorosa sobre possíveis ligações entre grupos armados e o crime organizado nos recentes atentados. Petro também repudiou as acusações de que seu governo teria contribuído para o aumento das tensões ao dialogar com setores dissidentes. “Não toleraremos ações terroristas, e tampouco aceitaremos que a busca por uma paz total seja confundida com fraqueza diante do crime”, declarou.

A oposição, por sua vez, reagiu duramente. Líderes políticos pedem que o governo convoque um conselho extraordinário de segurança e suspenda os canais de negociação com as dissidências armadas. O ex-presidente Iván Duque, crítico do atual governo, afirmou que os ataques revelam “o fracasso da política de apaziguamento” e exigiu uma resposta militar “contundente e imediata”.

O “Estado-Maior Central”, liderado por Iván Mordisco, é atualmente o maior grupo armado não estatal da Colômbia e opera em regiões estratégicas para o narcotráfico e o controle de economias ilegais. O grupo rompeu com o acordo de paz assinado em 2016, acusando o governo colombiano de não cumprir cláusulas essenciais do tratado. Desde então, o EMC tem protagonizado ataques a bases militares, delegacias, civis e líderes comunitários, dificultando os esforços por estabilidade nas zonas rurais do país.

A nova onda de violência representa um duro revés para os esforços do governo Petro em avançar em uma “paz total”, estratégia que busca integrar não apenas os ex-guerrilheiros das Farc, mas também o Exército de Libertação Nacional (ELN) e outras estruturas criminosas. Para analistas políticos, os atentados desta semana demonstram a fragilidade do controle estatal em regiões dominadas por interesses armados e agravam a polarização política no país.

A comunidade internacional acompanha com preocupação os desdobramentos. A ONU, por meio de sua missão de verificação na Colômbia, condenou os ataques e reiterou o compromisso com o processo de paz, mas alertou para a necessidade de uma resposta institucional sólida e respeitosa dos direitos humanos.

Com os olhos voltados para as eleições presidenciais de 2026, a Colômbia enfrenta agora o duplo desafio de conter o ressurgimento da violência política e de restaurar a confiança pública na capacidade do Estado de garantir segurança, justiça e paz. O país, que já celebrou avanços históricos no desarmamento e reintegração de ex-combatentes, vê-se novamente às voltas com o espectro da guerra interna — desta vez em novas roupagens, mas com a mesma capacidade destrutiva de décadas passadas.

Foto: O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro condena os atentados e diz que fará investigação rigorosa. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Fonte: Brasil 247

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