
Em Paris, Lula defende a democracia e critica o parlamentarismo: “eu jamais seria escolhido primeiro-ministro”
6 de junho de 2025 10:43Durante encontro com a comunidade brasileira em Paris, nesta quinta-feira (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reafirmou seu compromisso com a democracia e criticou as propostas de adoção do parlamentarismo no Brasil. Ao destacar que sua própria história política se construiu graças ao voto direto, Lula fez uma defesa enfática do sistema presidencialista.
“Tem muita gente que fala que o parlamentarismo é melhor no Brasil, mas eu jamais seria escolhido primeiro-ministro dentro do Congresso Nacional. A única chance que eu tenho é exatamente o povo votar.”
Lula ressaltou ser o único brasileiro eleito diretamente para três mandatos presidenciais, fato que, segundo ele, lhe dá legitimidade para lutar contra a desigualdade no cenário global — não apenas econômica, mas também de gênero, raça, saúde e educação.
Alerta contra o avanço da extrema direita – No mesmo discurso, o presidente fez duras críticas ao crescimento de grupos de extrema direita no mundo, classificando-os como “nazistas, fascistas e negacionistas”. Segundo Lula, esses movimentos negam as instituições democráticas e atacam conquistas civilizatórias fundamentais: “Só têm um discurso: aqui na Europa, contra a imigração, e contra a corrupção. E isso está ganhando força em muitos países.”
Ele mencionou a recente derrota da esquerda em Portugal como sinal de alerta e lembrou os retrocessos vividos no Brasil após o impeachment de Dilma Rousseff, que voltou a chamar de golpe.
Memória e reconhecimento cultural – Lula também homenageou a trajetória da família do jornalista Marcelo Rubens Paiva, citando o livro “Ainda Estou Aqui” e sua adaptação cinematográfica, vencedora do Oscar. Ele se dirigiu à irmã do autor, Ana Lúcia Paiva. “Você tem que ter orgulho do sofrimento que vocês tiveram na infância, porque o livro, transformado em filme com uma beleza extraordinária, recuperou a história da sua mãe.” O presidente destacou a importância de preservar a memória histórica e reconhecer os que resistiram à repressão durante a ditadura militar.
Inserção internacional e valorização do multilateralismo – Outro ponto do discurso foi a recente visita de Lula à Academia Francesa, onde, segundo ele, teve a honra de contribuir com o termo “multilateralismo” ao dicionário francês.
“Fiquei orgulhoso porque não sou acadêmico, não tenho diploma universitário. Tenho um curso primário e um curso técnico feito no Senai. Sou torneiro mecânico de profissão.”
Ele afirmou que a luta pelo multilateralismo é fundamental para fortalecer o papel dos países em desenvolvimento nas decisões internacionais.
Compromisso com o combate à fome – Lula voltou a falar de sua missão pessoal no combate à fome e lembrou que, ao final de seu primeiro mandato, o Brasil havia saído do Mapa da Fome da ONU. Segundo o presidente, após os retrocessos entre 2016 e 2022, mais de 33 milhões de brasileiros voltaram à insegurança alimentar. Agora, segundo ele, 24 milhões dessas pessoas já saíram dessa condição: “Até o final do meu mandato, não teremos ninguém passando fome.”
Defesa da ciência e crítica ao negacionismo – Lula não poupou críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de desrespeitar a ciência durante a pandemia de Covid-19. “Haverá um dia em que ele será julgado como criminoso por permitir que no Brasil morressem mais de 700 mil pessoas de Covid.”
Ele condenou a desinformação promovida por Bolsonaro sobre vacinas e medicamentos ineficazes, e apontou a urgência de enfrentar o negacionismo também na crise climática.
Um apelo pela ação global – Encerrando sua fala, Lula criticou o gasto bilionário global com armamentos enquanto milhões passam fome. Citando sua idade — 79 anos — e o desejo de viver até os 120, o presidente disse que teme que as futuras gerações herdem um planeta em colapso.
“O ser humano é o único animal que destrói o próprio leito onde dorme.”
O presidente afirmou ter ido à França com três objetivos centrais: defender a democracia, combater a fome e denunciar a desigualdade — causas que, segundo ele, só podem ser enfrentadas com coragem política e cooperação internacional.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Fonte: Brasil 247