
PF vai investigar bebidas com metanol e se há ligação com crime organizado. Cinco mortes confirmadas.
1 de outubro de 2025 11:28A Polícia Federal abriu, na segunda-feira (29), um inquérito para investigar o aumento de casos em São Paulo de intoxicação por metanol, uma substância tóxica capaz de causar cegueira e morte. Cinco pessoas morreram no estado. Pode piorar: Pernambuco investiga três casos suspeitos de intoxicação por metanol; dois pacientes morreram.
A medida foi uma determinação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que fez o anúncio durante entrevista coletiva na terça-feira (30).
O órgão vai verificar a procedência da substância e se existe distribuição em outros estados, bem como responder se há envolvimento do crime organizado. Segundo o ministro, “ao que tudo indica, [a rede de distribuição] transcende os limites de um único estado”, apesar de, no momento, as ocorrências estarem concentradas em São Paulo, ao justificar a competência da Polícia Federal.
Lewandowski também disse que determinou à Secretaria Nacional do Consumidor que abrisse inquérito administrativo para acompanhar as ocorrências. “Vamos ver as providências que podem ser tomadas do ponto de vista do direito do consumidor. Além disso, também constitui crime comum a venda e distribuição de produtos adulterados”, afirmou.
Ele acrescentou que, normalmente, a ingestão de metanol ocorria com relação a pessoas em situação de rua ou de vulnerabilidade, que se dirigiam a postos de combustível e ingeriam a substância. “Houve uma mudança de padrão em meados de setembro em que verificamos que as intoxicações passaram a ocorrer em bares e restaurantes, sobretudo em São Paulo, com adulteração de bebidas, como gim, uísque e vodca”, disse.
O diretor da PF, Andrei Rodrigues, disse que o órgão vai investigar o caso pela Superintendência de São Paulo e que as respostas virão em “um curto espaço de tempo”. Também disse que esse trabalho será feito junto com outros órgãos, como a Polícia Civil de São Paulo.
Ele justificou a atuação da PF afirmando que é possível conexões com investigações recentes do órgão em São Paulo e no Paraná sobre a cadeia de combustíveis, já que parte da importação de metanol passa pelo porto de Paranaguá. Ainda será investigado, segundo o diretor, a relação disso com o crime organizado.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que, entre agosto e setembro, foram 17 casos notificados e que, no ano, a média era de 20. Ele também afirmou que as vítimas geralmente eram pessoas em situação de rua, ou em “autoagressão”, e que chama atenção os casos concentrados em São Paulo.
Padilha acrescentou que haverá uma orientação mais clara para os profissionais de saúde de como verificar uma situação de gravidade e administrar os antídotos, além da notificação imediata dos casos pelos gestores municipais de saúde.
A Polícia Civil investiga bares e adegas suspeitas de venderem bebidas alcoólicas intoxicadas. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) diz que as adulterações podem estar ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Cinco mortes são confirmadas na Grande SP
Durante a entrevista coletiva em São Paulo, o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, confirmou que subiu para cinco o número de mortos por intoxicação com metanol no estado. Os casos ocorreram na capital e na região metropolitana de SP. De acordo com Eleuses, há no total 22 casos envolvendo intoxicação por metanol – 7 confirmados e 15 em investigação. Desses, cinco pessoas morreram, sendo que até o momento em apenas um desses casos há confirmação de que a morte se deu após a ingestão de bebida adulterada.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou na terça que “não tem evidência nenhuma da participação do crime organizado nisso”, se referindo às especulações de que o PCC (Primeiro Comando da Capital) estaria envolvido na adulteração de bebidas alcoólicas com metanol. Ele diz que as pessoas envolvidas até o momento não têm relação com o crime organizado e nem relação entre si.
“Tudo o que acontece agora em São Paulo é PCC. Não tem evidência nenhuma de participação do crime organizado nisso”, afirmou Tarcísio durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, também evitou associar o caso ao crime organizado. “Outras vertentes serão investigadas, mas bem distantes da participação do PCC”, afirmou. Segundo ele, não só nos casos atuais, mas nos últimos anos não há evidência da participação do crime organizado em nenhum dos inquéritos.
O delegado-geral afirmou que a operação realizada em Americana (SP) nesta terça-feira resultou na prisão de dois suspeitos que estavam adulterando bebidas alcoólicas.
O governador disse que foi formado um gabinete de crise voltado para a solução dos casos, além de criar canais específicos para denúncias de adulteração de bebidas, o Disque 181, e o canal de denúncia rápida disponível no portal do Procon-SP.
- O metanol não se destina ao consumo humano — e é altamente tóxico. Foto: Adobe Stock
- Fonte: Folha de S.Paulo