
Estratégia da oposição para incluir anistia ampla durante votação de projeto coloca governistas em alerta
20 de setembro de 2025 11:39Integrante da base aliada do governo na Câmara dos Deputados acenderam o alerta para uma possível estratégia da oposição durante a votação do projeto da anistia: apresentar uma sugestão de alteração no texto (chamado na linguagem parlamentar de “destaque”) durante a votação no plenário e, com isso, aprovar a anistia ampla e irrestrita, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nas votações na Câmara, primeiro os deputados votam o parecer apresentado pelo relator, chamado de texto-base. Na sequência, analisam cada destaque apresentado pelos partidos – uma forma de alterar trechos específicos do texto.
- 🔎Como se trata de um projeto de lei, qualquer alteração aprovada em plenário precisa apenas do apoio de maioria simples da Casa – ou seja, metade mais um entre os votantes. Neste caso, o quórum é ainda mais fácil do que a aprovação da urgência da anistia, que precisava de maioria absoluta (257 votos a favor).
“O relatório não vai ser o pior, eles [bolsonaristas] vão apresentar destaque e, com maioria simples, incluir a anistia para Bolsonaro. Abriu espaço para isso”, disse um governista.
O relator da proposta, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), já disse que o projeto irá focar na redução de penas previstas em lei, e não em um perdão irrestrito. Por isso, ele sugere até um novo apelido para a matéria: “projeto da dosimetria”.
‘Patifaria’
Parlamentares do Centrão também têm repetido que não há nenhum clima para aprovar uma anistia ampla, que inclua Jair Bolsonaro.
Publicamente, aliados mais radicais do ex-presidente têm manifestado incômodo com a mudança de rota da proposta.
“Que patifaria! Querem transformar o PL da anistia em PL da dosimetria? Ainda falam que isso está de comum acordo com o Supremo para não afrontá-lo. Isso só pode ser brincadeira”, escreveu o deputado Carlos Jordy (PL-RJ).
Mas, nos bastidores, parlamentares da oposição mais pragmáticos defendem trabalhar em cima do texto pautado e se articulem para incluir alterações no plenário.
“Ele [Paulinho da Força] vai fazer um texto brando, leve e frouxo, mas vai ser pautado. E aí a gente muda no plenário como a gente quiser”, diz um deputado, que pretende levar a estratégia para a reunião de parlamentares da oposição na próxima semana.
Segundo esse parlamentar, defender um projeto é “igual fazer linguiça. Não importa o que entra, importa o que sai.”
Reservadamente, este deputado admite que um projeto como a oposição queria “jamais seria pautado” e que essa é a chance deles se articularem na apresentação de destaques para anistia mais ampla.Crimes antidemocráticos
Outro ponto de preocupação entre parlamentares alinhados ao governo é a possibilidade de o projeto reduzir as penas para crimes contra a democracia.
Hoje, o crime de golpe de estado tem punição de 4 a 12 anos de prisão e o de abolição violenta contra o estado democrático de direito, de 4 a 8 anos.
Segundo uma minuta de texto que circula na Câmara, haveria a possibilidade de as penas passarem, respectivamente, de 2 a 8 anos de prisão e de 2 a 6 anos de prisão. Além disso, os dois crimes não seriam cumulativos.
Deputados dentro do PT comemoram a punição histórica para os atentados contra a democracia no Brasil e dizem que “seria muito ruim fazer essa modificação enquanto os julgamentos [da trama golpista] estão em curso”.
Um parlamentar afirma que essa mudança faria com que a pena de golpe no Brasil pudesse ser menor do que a de roubo de celular, por exemplo (de 4 a 10 anos).
Em entrevista ao Estúdio I, da GloboNews, Paulinho da Força disse que “até agora não tem nem rascunho do texto” e disse que “aqueles que atentaram contra a democracia e o estado democrático de direito não serão contemplados”.
Contudo, ainda segundo o relator, as penas de Jair Bolsonaro também vão acabar sendo diminuídas com a alteração na lei.
Paulinho da Força diz que não quer projeto que afronte o Supremo
O ex-presidente foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por cinco crimes:
- golpe de Estado;
- abolição violenta do estado democrático de direito;
- organização criminosa;
- dano qualificado; e
- deterioração de patrimônio tombado.
- Deputados da oposição durante votação da urgência do projeto de anistia. Foto: Reprodução
- Fonte: G1