Por que não um papa negro? O que se sabe sobre a suposta exclusão do cardeal queniano que deveria participar do conclave

8 de maio de 2025 21:10

A exclusão do cardeal queniano John Njue do conclave que começa na quarta-feira no Vaticano está envolta em mistério. Oficialmente, a ausência dele foi atribuída a motivos de saúde. No entanto, suas próprias declarações lançaram dúvidas – e fizeram a versão oficial parecer contraditória.

Em entrevista ao jornal Daily Nation, do Quênia, Njue afirmou não ter recebido nenhum convite formal para participar da eleição do sucessor do Papa Francisco (1936-2025). Ele também negou que sua saúde fosse um impeditivo para viajar a Roma.

“Sinceramente, não sei por que fui excluído do conclave. Não entendo a razão”, disse. “Quem vai para lá nas eleições costuma receber convites oficiais, e esse não foi o meu caso. Não é por razões de saúde.”

Njue, o único cardeal queniano com direito a voto, também comentou versões que sugeriam que ele poderia ter sido excluído por ter ultrapassado o limite de idade permitido para participar, de 80 anos. Embora sua data de nascimento conste oficialmente como dezembro de 1944 – o que o deixaria exatamente no limite –, algumas fontes não confirmadas indicam que ele poderia, na verdade, ter um ano a mais.

Segundo o jornal italiano “La Repubblica”, o motivo da ausência do cardeal pode ser um episódio controverso. De acordo com o veículo, documentos supostamente oficiais mostram que a data de nascimento dele foi recentemente alterada, a pedido do próprio cardeal, de 1944 para 1º de janeiro de 1946, o que o deixaria abaixo dos 80 anos.

Pouco depois da publicação das declarações de Njue, a Arquidiocese de Nairóbi desmentiu o que ele disse, e o arcebispo Philip Anyolo afirmou que o cardeal havia sido convidado por meio da Nunciatura Apostólica do Quênia, mas que seu estado de saúde não lhe permitia a viagem.

Cardeais na Basílica de São Pedro, em Roma, antes do início do conclave que elegeu o Papa Francisco — Foto: Gabriel Bouys/AFP
Cardeais na Basílica de São Pedro, em Roma, antes do início do conclave que elegeu o Papa Francisco — Foto: Gabriel Bouys/AFP

Na mesma linha, o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, esclareceu que não era necessário um convite formal para participar de um conclave, já que todos os cardeais eleitores têm o direito de comparecer.

— Em alguns casos, o cardeal decano realiza uma verificação por meio da Nunciatura (representação diplomática do Papa e do Vaticano junto ao governo). Neste caso, ela foi feita e a resposta foi negativa, ou seja, que o cardeal não viajaria a Roma por motivos de saúde.

O episódio se soma a uma série de confusões recentes sobre o estado de saúde do cardeal. Em setembro de 2024, a própria Arquidiocese de Nairóbi teve de desmentir rumores sobre sua suposta morte, classificando-os como “totalmente falsos e sem fundamento”.

Em comunicado assinado pelo bispo auxiliar Wallace Ng’ang’a Gachihi, foi feito um apelo para que se evitasse a disseminação de informações não verificadas, acrescentando que qualquer novidade sobre a saúde de Njue seria comunicada por meio dos canais oficiais da Igreja.

Estes são os requisitos para que um cardeal possa participar da eleição de um novo Papa:

  • Idade: Apenas podem votar os que não tiverem completado 80 anos no dia em que a Sé Apostólica fica vacante (seja por morte ou renúncia do Pontífice);
  • Condições pessoais: Não podem estar impedidos por doenças graves, deficiências físicas ou mentais, nem por razões jurídicas;
  • Não é necessário convite formal: Os cardeais eleitores têm direito a participar. Contudo, o cardeal decano (a principal autoridade entre os cardeais) pode realizar uma verificação logística, por meio das nunciaturas, para confirmar quem comparecerá;
  • Limite de eleitores: Embora o número máximo estabelecido seja de 120, na prática já houve conclaves com mais cardeais votantes. De fato, no atual participarão 133 cardeais;
  • Participação obrigatória: A presença é um dever. Somente causas justificadas e comunicadas ao decano do Colégio Cardinalício permitem ausência sem que isso seja considerado uma falta grave.

Fonte: La Nacion/O Globo
Foto: Divulgação/Caritas Nairobi

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