
Barraco em família: Eduardo, “exilado” nos EUA, se cala após ser desmentido pelo irmão, Flávio, sobre David Gamble, assessor de Trump
6 de maio de 2025 15:37O “cainismo” domina a família Bolsonaro, com irmão enfrentando irmão no ringue favorito do clã: as redes sociais. “Exilado” fake nos Estados Unidos, e ainda assim recebendo salário de deputado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive um eclipse das redes sociais após ser desmentido pelo próprio irmão, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), sobre uma fake news – nada de novo nessa irmandade, mas o tema revela requintes de embuste. Eduardo, que se comporta sobre um filho pródigo de Donald Trump, espalhou que o coordenador interino de sanções do governo, David Hardt “Chip” Gamble Jr., estaria no Brasil para tratar de punições ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Coordenador para Sanções do governo Trump desembarca esta segunda-feira em Brasília. Dentre as agendas estaria prevista reunião com o senador Flavio (PL-RJ) e com o próprio presidente Jair Messias Bolsonaro, anunciou Eduardo na sexta-feira (2), iniciando uma série de tuites para incitar a horda bolsonarista. No entanto, o próprio irmão, Flávio, desmentiu Eduardo após se reunir com Ricardo Pita, conselheiro sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental no Departamento de Estado – em outras palavras, um funcionário de Gamble. Desmentido em reportagem de Jamil Chade, o filho “02” de persistiu na mentira.
“Eu na qualidade de Presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, havia pedido já há alguns dias uma reunião via embaixada americana aqui no Brasil com alguma autoridade do governo americano que a gente pudesse tratar dessa pauta de segurança pública. Então, o assunto aqui não tem nada a ver com sanções, com relação a quem quer que seja, como foi tratado e por parte da imprensa. Essa reunião não foi pra isso, já havia pedido essa reunião. O que nós tratamos aqui é que eu pedi ao governador Cláudio Castro, do Rio de Janeiro, por intermédio da sua Secretaria de Segurança, um relatório de inteligência sobre a expansão dos grupos brasileiros, em especial de tráfico de armas e drogas, mais especificamente o Comando Vermelho e o PCC, sobre as vinculações deles com organizações criminosas internacionais como o Hezbollah”, disse Flávio, que só faltou chamar o irmão de mentiroso – veja vídeo. Diante da discórdia dentro do próprio clã, Eduardo resolveu se calar e sumiu das redes sociais.
Reuniões com o governo Lula
No sábado (3), em nota ao jornalista Jamil Chade, a Embaixada dos EUA no Brasil afirmou que “o Departamento de Estado dos Estados Unidos enviará uma delegação a Brasília, chefiada por David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções. Ele participará de uma série de reuniões bilaterais sobre organizações criminosas transnacionais e discutirá os programas de sanções dos EUA voltados ao combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas”. Ou seja, nada a ver com Alexandre de Moraes.
A viagem faz parte de uma agenda oficial de cooperação entre Brasil e EUA. Gamble tem agenda no Itamaraty, Ministério da Justiça e outros órgãos federais, de acordo com Chade.
Eduardo, no entanto, insistiu na mentira, dizendo que a resposta teria sido dada por funcionários da embaixada dos EUA ligados ao ex-presidente, Joe Biden.
Desde que abandonou o mandato de deputado no Brasil, Eduardo Bolsonaro tem se dedicado a articular sanções contra o ministro, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe, que tem como réus seu pai e diversos aliados.
Além de ataques e ameaças nas redes sociais, nos EUA, Eduardo Bolsonaro tem se reunido com parlamentares da ala mais radical do trumpismo para tentar aplicar a Lei Magnistiky contra Moraes. Trata-se de uma legislação que prevê sanções econômicas a acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos, tais como o bloqueio de contas bancárias e de bens nos Estados Unidos, além da proibição de entrada no país.
Um pouco sobre no David Hardt Gamble

Coordenador interino de sanções – acredite, o nome é esse – do governo de Donald Trump, David Hardt “Chip” Gamble Jr,. uma dessas figuras bizarras que fazem parte do “Ministério de Haia”, é um oficial aposentado da Reserva do Exército, com serviço na Coreia e no Afeganistão. Gamble é funcionário de carreira da diplomacia dos EUA e serviu no Senior Foreign Service nos mandatos de George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump, Joe Biden e Trump novamente.
“Ninguém trabalha para Democratas e Republicanos – cinco presidentes – em cargos importantes se não for extremamente profissional sem, necessariamente, viés político”, afirmou na rede X o advogado Fernando Boscardin, mestre em Direito dos EUA e Internacional pela University of Miami School of Law.
Como Conselheiro Econômico do Ministério de Relações Exteriores dos EUA, Gamble atuou nas Filipinas por um ano. Segundo perfil no site oficial do governo dos EUA, Gamble ainda trabalhou em missões no Afeganistão, Cazaquistão, Filipinas (duas vezes), Polônia e Rússia.
Nos EUA, o diplomata foi Diretor Adjunto e Diretor Interino do Escritório de Redução da Ameaça de Armas Convencionais do Departamento de Estado.
Depois que se aposentou das Forças Armadas, Gamble teve atuação em empresas ligadas ao mercado da guerra nos EUA, como é comum entre militares.
Gamble foi consultor de segurança nacional na MPRI, atual Engility Corporation, uma das maiores prestadoras de serviço militar privado para o governo dos EUA.
A empresa contrata mercenários para atuar em guerras e intervenções militares dos EUA pelo mundo, além de treinar exércitos de outros países para defender posições dos EUA, como ocorreu na Bósnia e Herzegovina, Iraque , Kuwait e África do Sul.
Gamble também trabalhou como consultor na Booz Allen Hamilton, empresa que ganhou no mundo com o caso Wikileaks. O principal negócio da Booz Allen é prestação de consultoria na área de segurança, especialmente para o mercado da guerra.
Em 2013, a empresa ganhou notoriedade em razão de seu funcionário mais famoso, Edward Snowden, responsável pelo maior vazamento de documentos secretos da história dos Estados Unidos, que revelou a rede de vigilância mundial constituída pelas agências de inteligência de vários países e com a colaboração da própria empresa. O caso está na matriz do Wikileaks, plataforma por onde até hoje são vazadas informações sobre a atuação dos EUA no xadrez internacional.
Foto: Reprodução de vídeo rede X e Governo dos EUA/PR
Fonte: Com informações da Revista Forum