
O mundo resiste à Gilead pretendida por Trump: milhares saem às ruas nos EUA e na Europa em protestos ‘No Kings’
18 de outubro de 2025 15:39Os primeiros protestos da campanha “No Kings” começaram neste sábado,18, nos Estados Unidos e em várias cidades do mundo, marcando o início de uma das maiores mobilizações populares desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Os protestos “No Kings” são uma série de manifestações organizadas a partir dos Estados Unidos, com ramificações em outros países, dirigidas contra a administração do Trump – na sua segunda presidência, ainda mais autocrática – e contra aquilo que os organizadores consideram um avanço de tendências autoritárias.
O lema “No Kings” (“Sem Reis”) funciona como metáfora: a ideia é afirmar que em uma democracia — e especialmente nos EUA — não deveria haver uma liderança com características monárquicas ou absolutas. Em concreto, os organizadores querem destacar que estão vendo o presidente agir de modo a concentrar poder, ou saltar por cima de limites institucionais (como tribunais, legislativo, governos estaduais), inclusive agredindo militarmente e comercialmente outros paíases – o que interpretam como ameaça à democracia.
O nome também foi escolhido em reação a um evento simbólico: no dia da primeira grande onda de protestos (14/6/2025), os EUA comemoravam o 250.º aniversário do Exército e havia um desfile militar em Washington, D.C., que os organizadores viam como parte de uma “emergência” de estilo de governo mais militarizado ou de culto à figura presidencial.

Organizadores estimam mais de 2.600 atos em todas as regiões americanas, com marchas também em Londres, Madri e Barcelona, em resposta ao que chamam de uma “guinada autoritária” do governo. Os manifestantes criticam políticas de imigração, segurança e educação, além de cortes de verbas para universidades e a presença da Guarda Nacional em grandes centros urbanos.
“Não há nada mais americano do que dizer ‘nós não temos reis’ e exercer nosso direito de protestar pacificamente”, afirmou Leah Greenberg, cofundadora do movimento progressista Indivisible, responsável pela organização dos atos.
Em Washington, manifestantes se reuniram perto do Cemitério Nacional de Arlington, próximo à área onde Trump planeja construir um arco monumental ligando o Memorial Lincoln à margem oposta do rio Potomac.

Oposição cresce com apoio político e popular
O movimento recebeu apoio de Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, além de dezenas de celebridades. A ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis) treinou milhares de voluntários para atuar como monitores e evitar confrontos.
Pesquisadores de movimentos sociais preveem que os atos deste sábado possam se tornar os maiores protestos da história recente dos EUA, com até 3 milhões de participantes, segundo Dana Fisher, professora da Universidade Americana de Washington.
“Essas manifestações podem não mudar as políticas de Trump, mas fortalecem a identidade coletiva de quem se sente perseguido ou silenciado”, afirmou Fisher.

Reação republicana e tensão política
Enquanto os protestos se espalhavam, republicanos reagiram com críticas. O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, classificou os atos como “comícios antiamericanos”, apelidados dentro do partido de “Hate America rallies”.
“Eles vão se reunir no National Mall para o que chamam de No Kings Rally. Nós preferimos o termo mais preciso: o comício do ódio à América”, declarou Johnson.
Outros aliados de Trump acusaram a oposição de estimular violência política, lembrando o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, aliado do presidente, em setembro.
Trump, por sua vez, minimizou os protestos. Em entrevista à Fox Business, afirmou: “Dizem que me chamam de rei. Eu não sou um rei”.
Quais são os pontos-de crítica dos manifestantes
Os protestos focam diversas frentes, entre elas:
- A utilização — ou ameaça de utilização — de forças militares ou da Guarda Nacional internamente, em cidades lideradas por prefeitos ou governadores de oposição, que para os manifestantes representa militarização do poder interno.
- Alegações de que o governo estaria ultrapassando o poder dos tribunais e do legislativo, agindo de forma a burlar freios e contrapesos.
- Críticas à política de imigração — deportações, detenções, uso de agentes federais em estruturas questionadas — e à erosão de direitos civis e serviços públicos.
- A percepção de que o presidente e seu entorno se aproximam de uma lógica de “governo para poucos” (por exemplo, interesses de ultrarricos, corte de serviços sociais) e de governança verticalizada.
🌍 Por que se estende à Europa e outros países

Embora seja um movimento centrado nos EUA, há manifestações em países europeus e outras partes do mundo. Algumas razões para isso:
- Existem capítulos externos ou grupos de apoiadores (por exemplo, cidadãos americanos que vivem no exterior) que participam em solidariedade, sob bandeiras como “No Tyrants” ou “No Dictators” para adaptar o slogan ao contexto local (em países que têm monarquia, por exemplo, evitar “No Kings”).
- Em muitos países europeus, há preocupação com o que os manifestantes consideram uma deriva autoritária global; logo, o movimento vê o que acontece nos EUA como parte de uma onda mais ampla.
- É também uma forma de pressionar externamente, visibilizar internacionalmente o que o movimento entende como fragilidade democrática nos EUA, e mostrar que as repercussões ultrapassam fronteiras.
- Milhares de manifestantes ocupam a Times Square durante o protesto “No Kings”, no sábado, 18, em Nova York.As manifestações pipocaram pelos EUA e Europa. Foto: Olga Fedorova/AP
- Fonte: G1/TV Globo/AP