
‘O favorito’: Trump tenta salvar Milei em momento crítico para a Argentina
28 de setembro de 2025 12:57Sob risco de retrocessos na economia argentina, o presidente Javier Milei conseguiu estancar a mais recente hemorragia de dólares no país graças à promessa de ajuda financeira de seu aliado americano Donald Trump, na terça (23). O rumo de um plano de estabilização, porém, depende de fatores políticos que parecem fora de controle.
De seu encontro com Trump, em Nova York, Milei recebeu até um adiantado apoio do republicano à sua reeleição em 2027. No dia seguinte, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessant, esclareceu que benesses à Argentina devem vir na forma de um acordo de swap (troca de moedas) de US$ 20 bilhões e da compra de títulos em dólares do país.
O anúncio foi suficiente para reverter a corrida à moeda americana que, na semana passada, forçara o banco central argentino a despejar US$ 1,1 bilhão das escassas reservas internacionais no mercado cambial. As pressões sobre a remuneração dos títulos públicos e a escalada da taxa de plano de estabilização esmoreceram.
Mas dúvidas em relação ao montante total da ajuda de Trump e, em especial, sobre quando será enviada ainda mantêm investidores cautelosos. Prevalecem as incertezas acerca da capacidade do país de honrar US$ 8,5 bilhões em dívidas a vencerem até julho de 2026 e, com isso, o risco de novas turbulências no mercado cambial.
Ademais, o mero anúncio da benevolência de Trump não garante fôlego a Milei até as eleições legislativas de meio de mandato, em outubro; tampouco facilita a reconquista do apoio de parlamentares de centro que, nas últimas votações, respaldaram projetos de expansão de gastos.
Neste momento, o argentino governa com minoria no Congresso e sob escrutínio da sociedade, que dá sinais de maior aversão ao ajuste nas contas públicas e a escândalos de corrupção que comprometem sua gestão.
A queda da inflação em 12 meses, de um pico de 289% em abril de 2024 a 33,6% em agosto deste ano, não se reflete plenamente na aprovação da Casa Rosada. O recuo da taxa de pobreza a 31,6% no primeiro semestre de 2025, depois de alcançar 40,1% em igual período de 2023, tampouco assegura a continuidade do necessário programa de ajustes.
Haverá algum respiro se a ajuda americana chegar à Argentina antes da eleição —provavelmente, a partir da contrapartida de encerrar seu acordo de swap com a China. Mas tal alívio não isentará Milei de encarar de vez a flutuação cambial e a redução das taxas de juros, se quiser concluir sua agenda de estabilização.
- ‘O favorito’: como apoio de Trump resgatou Milei em momento crítico para a Argentina. Apoio do governo americano com US$ 20 bilhões evitou uma crise que poderia ter levado o presidente argentino a ser derrotado nas eleições legislativas. Foto: Joe Raedle/Bloomberg, e Joe Raedle/Getty I/Joe Raedle
- Fonte: Bloomberg Línea/Folha