Milei faz ‘show’ de rock em lançamento de seu próprio livro em meio a crises política e econômica na Argentina

7 de outubro de 2025 15:44

Vestido de preto e com imagens de bombardeios projetadas no palco, o presidente da Argentina, Javier Mileitransformou o lançamento de seu livro em um show de rock. Ele subiu ao palco, cantou músicas do gênero e uma canção folclórica judaica. A apresentação, organizada por sua equipe, aconteceu na noite de segunda-feira, 6, em Buenos Aires.

A publicação, chamada “La Construcción del Milagro” (“A Construção do Milagre”, em tradução livre), fala sobre o que Milei chama de “milagre” econômico da Argentina, embora o país tenha pedido socorro financeiro aos Estados Unidos há duas semanas.

Com uma voz estridente e rouca, o argentino iniciou a apresentação com a música “Panic Show”, do grupo La Renga, e “Demoliendo Hoteles”, de Charly García. Depois, apresentou seu grupo, a Banda Presidencial — composta por deputados aliados.

Após cantar umas dez canções, Milei repudiou um ataque antissemita a uma mulher e seu filho em Buenos Aires. “Não vamos permitir esta xenofobia que a esquerda está tentando instalar”, disse. Em seguida, entoou a canção folclórica “Hava Nagila”, que o público acompanhou timidamente.

“Vamos, que isto incomoda a esquerda!”, afirmou.

Marketing dos micos: Milei, há dois anos, durante campanha à Presidência da Argentina, costumava se vestir fantasiado do que chamava de “super-herói libertário, vindo da Liberlândia, um “país onde não se paga impostos”. Mas pode chamar só de “general Ancap”, em referência ao anarcocapitalimo que jura defender. Divulgação.

Depois, incentivou as pessoas a cantarem “Cristina Tobillera [Cristina Tornozeleira, em referência à prisão domiciliar que a ex-presidente Cristina Kirchner cumpre desde junho por corrupção]. Cristina é arqui-inimiga do argentino.

Os quase 15 mil presentes que lotaram a Movistar Arena, na capital Buenos Aires, aplaudiram quando foram projetadas imagens do presidente norte-americano, Donald Trump, e do ativista conservador Charlie Kirk, assassinado no mês passado nos Estados Unidos.

Livro

Com 573 páginas, o livro é uma compilação de discursos e publicações do argentino, a maioria do ano passado, e está sendo lançado no pior momento de seus quase dois anos de mandato de política ultraliberal.

Milei atravessa uma crise política agravada pela renúncia, no domingo, de um de seus principais candidatos para as eleições legislativas de 26 de outubro por supostos laços com narcotráfico.

Mas, com o ato, o presidente parecia buscar reviver os tempos de sua campanha presidencial de 2023, quando cultivava uma imagem de economista e astro de rock.

“Universidades do mundo”

Durante a tarde, milhares de militantes libertários – o equivalente por lá aos bolsominions – se reuniram nas imediações da Movistar Arena, no bairro de Villa Crespo em Buenos Aires.

“Temos que decidir se acabamos com a decadência de 100 anos”, comentou Leonardo Saade, um trabalhador do setor de turismo de 37 anos que viajou desde Entre Ríos (norte) para a apresentação.

“O milagre econômico argentino está sendo estudado em universidades do mundo”, disse ele à AFP.

Enquanto os simpatizantes de Milei entravam na arena, outros manifestantes protestavam em frente ao local com cartazes de “Fora Milei”, e houve um princípio de confusão entre ambos os grupos, sem maiores incidentes.

“Este homem vive em outro país, não tem ideia da fome que o povo está passando”, disse Liliana Castelnovo, aposentada e paciente oncológica de 73 anos, ao ressaltar que não tem dinheiro para comprar seus remédios.

Este “abraço” dos libertários a Milei chega no momento em que seu governo está sofrendo com turbulências financeiras e políticas.

Na semana passada, o Congresso rejeitou dois de seus vetos a leis de financiamento de universidades e da saúde pediátrica, em meio a acusações de corrupção e após um importante revés eleitoral provincial no início de setembro.

Essa derrota espalhou dúvidas nos mercados sobre a governabilidade na segunda metade de seu mandato, o que provocou uma corrida cambial, temporariamente sufocada por promessas de ajuda dos Estados Unidos.

Um dos economistas amigos de Milei que integra a Banda Presidencial, o baterista Bertie Benegas Lynch, escreveu no prólogo do livro que o presidente “provou que apenas o interesse pessoal e o individualismo fazem florescer a paz e a prosperidade”.

Contudo, perto da Movistar Arena, um cartaz dizia: “Milei, é um milagre que alguém venha comprar alguma coisa.”

“Eu acreditei que [Milei] sabia algo de economia, mas ele não sabe nada”, disse Rubén, que trabalha em um açougue a poucos metros e prefere não revelar seu sobrenome: “Assim qualquer um baixa a inflação, se ninguém compra nada”, disse ele à AFP.

O governo Milei reduziu bastante a in

flação e conseguiu um histórico superávit fiscal, mas às custas da desvalorização do peso, da diminuição do consumo e da retirada de subsídios que encareceram o acesso à moradia, saúde e educação.

  • Não, não é IA. É uma imagem real do O presidente argentino, Javier Milei, canta em um arremedo de show de rock, com todos os clichês do gênero, para lançamento de seu livro, em Buenos Aires. Foto: Agustin Marcarian/ Reuters
  • Fonte: G1, com agências internacionais

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