Guerra carioca: megaoperação em comunidades contra o CV tem – até agora – mais de 60 mortos, mais feridos. Governador bolsonarista mente e diz que governo federal negou ajuda
28 de outubro de 2025 14:26Pelo menos 64 pessoas morreram – 4 delas policiais – e 81 foram presas nesta terça-feira, 28, em uma megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Esta é a operação mais letal da história do estado, segundo números confirmados pelo Palácio Guanabara – nunca confiáveis. Esta é a operação mais letal da história do estado. A carnificina de Cláudio Castro não tem inteligência, tem método – e tem intenções políticas -, mas matança em áreas pobres e subjugadas – não se discute liberalização de determinadas drogas, nem o fato de que os verdadeiros “donos do morro” morarem em condomídios de luxo – como PCC que usa fintechs para “lavar o dinheiro” na Faria Lima.
No início da tarde, houve represália do tráfico em várias partes da cidade. Barricadas, com veículos tomados ou entulho, foram feitas na Linha Amarela, na Grajaú-Jacarepaguá, na Rua Dias da Cruz, no Méier, entre outros locais.
Até a última atualização desta reportagem, a ação ainda estava em andamento, com relatos de mais baleados. Trata-se de mais uma etapa da Operação Contenção, uma iniciativa permanente do governo do estado de combate ao avanço do CV por territórios fluminenses.

Governador bolsonarista diz que governo federal recusou ajudar em operações no Rio
O governador Cláudio Castro (PL) afirmou nesta terça-feira (28) que o governo federal negou ajuda para operações policiais no RJ e que o estado “estava sozinho” na ação desta manhã nos complexos do Alemão e da Penha.
“Tivemos pedidos negados 3 vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, reclamou Castro.
🔎A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é uma operação prevista na Constituição que autoriza o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública em situações excepcionais, quando há esgotamento das forças policiais estaduais. Nesses casos, Exército, Marinha e Aeronáutica passam a atuar com poder de polícia, de forma temporária e sob comando do presidente da República, para restabelecer a ordem e proteger pessoas e patrimônios.

‘ADPF foi observada’
Castro afirmou que a ação cumpriu as regras da ADPF 635, que define regras para as ações em comunidades, e destacou que o Ministério Público acompanha o avanço das tropas.
“Todas as regras da ADPF foram cumpridas, inclusive com a participação do Ministério Público. Acabei de falar com o procurador-geral de Justiça, que está em Brasília, mas está acompanhando tudo”, afirmou o governador, referindo-se a Antonio José Campos Moreira.
Castro disse que os confrontos desta terça ocorreram, principalmente, em áreas de mata.
“Os confrontos estão acontecendo, e não vou dizer 100% porque pode ter acontecido um ou outro, mas majoritariamente em área de mata. Foi pensado para encurralá-los lá para que a população sentisse o mínimo possível”, disse o governador em coletiva de imprensa.
Segundo Castro, nos locais onde há vegetação a população sente menos os “efeitos colaterais” dos confrontos.
“As nossas forças de segurança que planejaram isso e, rapidamente, foram para áreas de mata onde a população não teria os efeitos colaterais, que apesar do nome, são as vidas das pessoas”, afirmou.
Uma quantidade de drogas ainda não contabilizada também foi apreendida.
Lewandowski desmente Cláudio Castro: o governador “não fez contato”
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que o governador do Rio de Janeironão fez qualquer contato com o titular da pasta sobre a megaoperação contra o Comando Vermelho. Portanto, ele mentiu.
Em nota, a pasta da Justiça afirmou que “tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional no Estado, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual”. “Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas”.
Em coletiva de imprensa, Cláudio Castro fez críticas ao governo federal e afirmou que as Forças Armadas negaram três pedidos de apoio feitos pelo governo do Rio.
Mortos e feridos
A TV Globo apurou que entre os mortos há 2 policiais civis e 2 policiais militares:
- Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, de 51 anos, conhecido como Máskara, recém-promovido a chefe de investigação da 53ª DP (Mesquita);
- Rodrigo Velloso Cabral, de 34 anos, da 39ª DP (Pavuna).
Entre os outros mortos, segundo o governo do estado – números nunca confiáveis -, traficantes que trocaram tiros com policiais.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/i/D/yQyC5FQOSMh4ROI3goVA/28op7-copiar.jpg)
O que é a operação
Pelo menos 2.500 agentes das forças de segurança do RJ saíram para cumprir 100 mandados de prisão. A Polícia Civil afirmou ainda que, em retaliação, criminosos lançaram bombas com drones. Outros fugiram em fila indiana pela parte alta da comunidade, em uma cena semelhante à disparada de bandidos em 2010, quando da ocupação do Alemão.
Escolas e postos de saúde não abriram. Veja aqui os impactos à população nesta terça.
Operador do CV preso
Entre os presos estaria Thiago do Nascimento Mendes, o Belão do Quitungo, um dos chefes do Comando Vermelho da região. Outro capturado é Nicolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de um dos altos chefes do CV, Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, afirmou que a operação foi desenhada com antecedência e não contou com apoio do governo federal.
“Toda essa logística é do próprio estado. São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro”, disse.
Santos destacou que cerca de 280 mil pessoas vivem nas áreas afetadas pela operação. “Essa é a realidade. Lamentamos profundamente as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária, planejada, com inteligência, e que vai continuar”, afirmou o secretário.
Alvos de outros estados
A ação desta terça, que também conta com promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), foi deflagrada após 1 ano de investigação pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Parte dos procurados, pelo menos 30, é do Pará.
Participam policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) e das unidades operacionais da PM da capital e Região Metropolitana. Já a Polícia Civil mobilizou agentes de todas as delegacias especializadas, distritais, do Departamento de Combate à Lavagem de Dinheiro e da Subsecretaria de Inteligência.
A Operação Contenção conta ainda com helicópteros, blindados e veículos de demolição, além de ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.
Denunciados
O Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) denunciou 67 pessoas pelo crime de associação para o tráfico, e 3 homens também foram denunciados por tortura.
De acordo com os promotores, o Complexo da Penha, historicamente um ponto estratégico para o escoamento de drogas e armamentos — até por estar localizado próximo a vias expressas —, se tornou uma das principais bases do projeto expansionista do Comando Vermelho pela região de Jacarepaguá.
“O denunciado Edgar Alves de Andrade, o Doca, é apontado como a principal liderança do Comando Vermelho no Complexo da Penha e em outras comunidades da Zona Oeste, como Gardênia Azul, César Maia e Juramento — algumas recentemente conquistadas da milícia”, disse o MPRJ.
Segundo a denúncia, também exercem liderança na associação criminosa Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão.
“Eles emitem ordens sobre a comercialização de drogas, determinam as escalas dos criminosos nas bocas de fumo e nos pontos de monitoramento e ordenam execuções de indivíduos que contrariem seus interesses”, destacou a promotoria.
Além deles, foram denunciados 15 homens que exercem funções de gerência do tráfico, responsáveis pela contabilidade, abastecimento e outras funções.
Os outros denunciados, segundo a ação penal, atuavam como “soldados”, realizando o monitoramento e a segurança armada.
Mulher atingida em academia, sem-teto baleado e tiros em janelas de bairros vizinhos: o desespero de moradores no fogo cruzado no RJ

A Secretaria Municipal de Saúde informou que 5 unidades de Atenção Primária suspenderam o início do funcionamento e avaliam a possibilidade de abertura nas próximas horas. Uma clínica da família abriu, mas suspendeu as visitas domiciliares.
Já segundo a Secretaria Municipal de Educação, 28 escolas fecharam no Complexo do Alemão. Na Penha, 17 não abriram.
A Secretaria Estadual de Educação informou que 1 colégio precisou ser fechado.
O Rio Ônibus avisou que 12 linhas de ônibus estão com seus itinerários desviados preventivamente para a segurança de rodoviários e passageiros.
Kelma foi baleada quando estava dentro de uma academia na Zona Norte do Rio durante uma megaoperação nos complexos do Alemão e Penha. Foto: Reprodução
Moradores de bairros vizinhos aos complexos do Alemão e da Penha foram atingidos por balas perdidas na manhã desta terça-feira (28), durante a megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro. Até o início da tarde, quatro inocentes tinham sido baleados na a ação, que visa prender cerca de 100 integrantes do Comando Vermelho.
A cabeleireira Kelma Rejane Magalhães Chaves, de 50 anos, estava na academia quando foi atingida por uma bala perdida. Levado pelo marido, ela deu entrada no Hospital Getúlio Vargas ainda pela manhã, foi atendida e recebeu alta algumas horas depois.
“Só fiquei meio assustada porque o barulho foi muito alto e começou a queimar meu glúteo e foi aquele susto. Mas agora está bem”, disse na saída da unidade de saúde.
Projétil atravessou janela do banheiro
Em Olaria, um morador contou que um projétil atravessou a janela do apartamento dele, no 11º andar, na Rua Paranapanema. “Um projétil atingiu a janela do meu apartamento no 11º andar. É apavorante. Uma das principais ruas de Olaria”, disse.
Na Penha, a bala atravessou a janela do banheiro bem na direção da pia. “Minha filha estava dentro do banheiro com o meu irmão e um tiro bateu no vidro do banheiro. Atingiu a janela do banheiro e a geladeira.
Um carro que passava pela Linha Amarela foi atingido no parabrisas. “Foi um susto que não desejo ara o meu maior inimigo”, contou o motorista.
Outro relato veio de Inhaúma, bairro também na Zona Norte, onde um morador afirmou ter acordado com um tiro que atravessou a janela de casa. “Moro em Inhaúma, acordei com uma bala atravessando minha janela”, contou.
Os episódios ocorreram enquanto mais de 2,5 mil agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar atuavam nos complexos da Penha e do Alemão.
Mais de 10 linhas de ônibus tiveram os itinerários desviados na Penha e no Complexo do Alemão, segundo o Rio ônibus.
A Secretaria de Segurança Pública afirmou que a operação foi planejada com base em informações de inteligência e que o objetivo é combater o avanço do Comando Vermelho por territórios fluminenses.
A Polícia Civil informou que vai investigar os casos de balas perdidas. Não há registro de feridos entre os moradores atingidos pelos disparos.
- Barricadas em chamas em reação à Operação Contenção. Foto: Reprodução/TV Globo
- Fonte: G1