
Risco de desgaste diplomático: Itamaraty veta telefonema ‘de improviso’ entre Lula e Trump
29 de julho de 2025 14:32O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também defendeu a necessidade de uma preparação prévia. Segundo ele, a articulação é indispensável para que “os dois povos se sintam valorizados na negociação”. Haddad afirmou ainda que “é papel nosso, dos ministros, azeitar os canais, para que a conversa, quando ocorrer, seja mais dignificante e edificante possível”, acrescentando que já houve “várias conversas que não foram respeitosas”.“Tem de haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa. Não haja um sentimento de vira-latismo, de subordinação”, ressaltou.
A avaliação dentro do Ministério das Relações Exteriores é de que uma eventual conversa telefônica entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa extra de 50% às exportações brasileiras precisa ser cuidadosamente articulada. Segundo o g1, diplomatas afirmaram que qualquer diálogo direto entre os líderes deve ser construído por meio de tratativas entre os representantes do Palácio do Planalto e da Casa Branca, evitando improvisos que possam resultar em constrangimentos.O alerta é motivado pelo comportamento recente de Trump em interações públicas com outros chefes de Estado. Em conversa com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, Trump adotou tom agressivo e o acusou de ser “desrespeitoso” com os Estados Unidos. Em outro episódio, no Salão Oval, apresentou supostos vídeos de um “genocídio branco” na África do Sul durante encontro com o presidente Cyril Ramaphosa — imagens cuja veracidade não foi comprovada.
Uma comitiva de senadores brasileiros que está em Washington passou a defender que Lula ligue diretamente para Trump. A sugestão, porém, enfrenta resistência entre diplomatas. “Telefonema entre presidentes não se improvisa, requer uma preparação prévia. Em casos de crise como a atual, mais ainda”, afirmou um diplomata sob condição de anonimato. Segundo ele, quando não há articulação sólida por trás do contato, podem ocorrer situações constrangedoras como as registradas recentemente. Outro diplomata reforçou que “ambos os presidentes já deixaram aberta a possibilidade [de conversa] em declarações à imprensa, mas improvisação e voluntarismo aqui não cabem”.O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também defendeu a necessidade de uma preparação prévia. Segundo ele, a articulação é indispensável para que “os dois povos se sintam valorizados na negociação”. Haddad afirmou ainda que “é papel nosso, dos ministros, azeitar os canais, para que a conversa, quando ocorrer, seja mais dignificante e edificante possível”, acrescentando que já houve “várias conversas que não foram respeitosas”.“Tem de haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa. Não haja um sentimento de vira-latismo, de subordinação”, ressaltou.
Brasil busca diálogo, mas cobra reciprocidade – O chanceler Mauro Vieira, que se encontra em Nova York após participar de um evento sobre a Palestina, indicou disposição de se deslocar a Washington caso algum integrante do governo Trump aceite recebê-lo. Até o momento, no entanto, não há confirmação oficial de agenda.Nos bastidores, diplomatas informam que os canais de negociação continuam ativos. “Nossa posição quanto à negociação está clara, de que estamos prontos a negociar tarifas, e isso há dias. Enquanto houver silêncio do lado de lá temos que insistir nisso, e a viagem do ministro é mais uma reiteração dessa nossa posição”, afirmou um interlocutor do Itamaraty.Decisão entra em vigor nesta sexta-feira – Se nada for alterado, a sobretaxa de 50% anunciada por Donald Trump entra em vigor nesta sexta-feira (1º), afetando produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.No Palácio do Planalto, auxiliares de Lula avaliam, também em caráter reservado, que Trump se mostra um presidente “imprevisível” nas relações com outros líderes globais. Por isso, um roteiro combinado entre os dois governos é considerado essencial antes de qualquer contato direto.
Desde o anúncio do tarifaço, o governo brasileiro tem reiterado disposição para negociar. No entanto, o presidente Lula e ministros reforçam que questões relacionadas à soberania nacional não estão em pauta. A tensão aumentou após Trump enviar uma carta ao presidente brasileiro mencionando a situação jurídica de Jair Bolsonaro — réu por crimes como tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.Segundo os ministérios das Relações Exteriores, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o próprio Planalto, o Brasil participou de cerca de dez rodadas de negociações com autoridades norte-americanas, mas sem alcançar um consenso.“O governo brasileiro, por orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem buscando negociação com base em diálogo, sem qualquer contaminação política ou ideológica”, informou o MDIC. “Reiteramos que a soberania do Brasil e o estado democrático de direito são inegociáveis. No entanto, o governo brasileiro continua e seguirá aberto ao debate das questões comerciais, em uma postura que já é clara também para o governo norte-americano”, completou o ministério.
- Foto de arquivo de Lula ao lado de chanceler Mauro Vieira. Foto: Ricardo Stuckert/PR
- Fonte: Brasil 247/G1