
No BRICS, Lula critica ‘chantagem tarifária’ – sem citar os EUA – e diz que ‘práticas ilegais enterram o livre-comércio’
8 de setembro de 2025 13:38Durante a Cúpula Virtual do BRICS, realizada nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou a necessidade de reforçar o papel do bloco diante do avanço do unilateralismo nas relações internacionais.
Lula afirmou que, desde a Cúpula do Rio de Janeiro, em julho, o BRICS tem se consolidado como espaço de propostas concretas para enfrentar dilemas globais. Segundo ele, já foram aprovadas medidas importantes nas áreas de clima, saúde, governança da inteligência artificial e integração econômica. Contudo, o presidente alertou para o agravamento da instabilidade internacional e a crise de governança que, em suas palavras, “não é mais conjuntural, mas estrutural”.
Críticas ao enfraquecimento do comércio multilateral
O presidente brasileiro criticou a paralisação da Organização Mundial do Comércio (OMC) e classificou como “enterrados” princípios como a cláusula da Nação Mais Favorecida e o Tratamento Nacional. Sem citar os Estados Unidos e o governo de Donald Trump, ele condenou práticas que chamou de “chantagem tarifária” e medidas extraterritoriais impostas por grandes potências, que, segundo ele, ameaçam a soberania de países em desenvolvimento.
“Cabe ao BRICS mostrar que a cooperação supera qualquer forma de rivalidade”, declarou Lula. Para o presidente, a integração comercial e financeira entre os países do grupo é uma alternativa concreta contra o protecionismo. Ele destacou ainda que o bloco representa 40% do PIB mundial, 26% do comércio global e reúne quase metade da população do planeta.
Conflitos internacionais e defesa da diplomacia
Lula também abordou temas geopolíticos. Sobre a guerra na Ucrânia, defendeu uma solução negociada que respeite as preocupações de segurança de todas as partes. Citou como avanços o encontro realizado no Alasca e a atuação conjunta de Brasil e China no Grupo de Amigos para a Paz.
O mandatário fez críticas severas a Israel pelo controle da Faixa de Gaza e pela ameaça de anexar a Cisjordânia. “É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos Territórios Palestinos”, disse. Ele lembrou que o Brasil aderiu à ação da África do Sul na Corte Internacional de Justiça e reiterou apoio à solução de dois Estados.
América Latina, armas nucleares e terrorismo
O presidente destacou ainda que a América Latina e o Caribe permanecem, desde 1968, como zonas livres de armas nucleares, reforçando a vocação pacífica da região. Criticou a presença de forças militares dos Estados Unidos no Mar do Caribe, que classificou como fator de tensão.
Lula também repudiou ataques terroristas, como os promovidos pelo Hamas e na Caxemira, ressaltando que tais práticas não podem ser associadas a nenhuma religião ou nacionalidade.
Reforma da ONU e governança digital
O presidente defendeu avanços na ampliação do Conselho de Segurança da ONU, com a inclusão de novos membros permanentes e não permanentes da América Latina, da África e da Ásia. Ele também apontou a necessidade de criar uma governança democrática para o ambiente digital, sob risco de perpetuar monopólios de grandes corporações.
“Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira”, afirmou. Lula ressaltou, porém, que não se trata de promover isolacionismo tecnológico, mas de incentivar a cooperação a partir de bases nacionais independentes.
Clima e transição ecológica
Na área ambiental, Lula reforçou a importância da COP-30, que será realizada em Belém, como momento decisivo para o futuro climático. O presidente propôs a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU e defendeu que países em desenvolvimento utilizem recursos provenientes de combustíveis fósseis para financiar a transição verde.
Ele também chamou atenção para o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, previsto para a conferência, destinado a remunerar serviços ecossistêmicos prestados pelos países que preservam biomas estratégicos.
Multilateralismo como resposta
Encerrando sua participação, Lula reafirmou que o BRICS já se consolidou como símbolo da defesa do multilateralismo e terá papel decisivo na refundação da ordem internacional. O presidente ressaltou o apoio do Brasil à futura presidência indiana do grupo e à agenda da Cúpula do G20, sob comando da África do Sul.
“O unilateralismo jamais conduzirá à realização dos propósitos de paz, justiça e prosperidade que nossos antecessores delinearam em 1945. O BRICS já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, concluiu.
- Lula participa de cúpula virtual do BRICS. Foto: Reuters
- Fonte: Brasil 247/CNN