
Esquerda faz seu maior ato em anos e lota ruas do país
21 de setembro de 2025 16:38Depois de anos sem conseguir reunir grandes multidões, a esquerda e apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lotaram ruas em diversas capitais neste domingo, 21. Os atos protestaram contra o PL da Anistia e à PEC da Blindagem, já aprovada pela Câmara e em análise no Senado. Imagens mostram que dezenas de milhares participaram das mobilizações, marcando um possível ponto de virada no histórico de presença popular da esquerda.
A primazia de mobilizar grandes públicos vinha sendo da direita, que nos últimos anos encheu avenidas em defesa de Jair Bolsonaro (PL) e contra decisões do STF (Supremo Tribunal Federal). A esquerda, ao contrário, vinha acumulando fiascos. Em 1º de maio de 2023, reuniu alguns milhares na avenida Paulista depois do 8 de Janeiro, mesmo com a presença de Lula no palanque.
Em julho, o maior ato da esquerda no ano levou 15,1 mil pessoas à Paulista, segundo levantamento da USP. Pouco depois, em agosto, a direita mobilizou quase 60 mil no mesmo local em um ato pró-anistia. O último ato da esquerda foi no 7 de setembro, também com público inferior, de 4.300 pessoas. O cenário mudou neste domingo.
Os atos tiveram concentração em diferentes capitais. Em Belo Horizonte, os organizadores falaram em 50 mil presentes na Praça Raul Soares. Em Brasília, o deputado distrital Fábio Felix (Psol) estimou 30 mil pessoas no Museu da República.

As ruas de Salvador estão lotadas desde às 10 horas da manhã. Com um trio elétrico comandado pela cantora Daniela Mercury, os manifestantes fizeram uma grande mobilização em frente ao Morro do Cristo, na Barra. O premiado ator Wagner Moura cantando Deusa do Amor, ao lado de Daniela, em Salvador, foiu um momento épico – Mídia Ninja transmitiu.

Na avenida Paulista, em São Paulo, a expectativa era de dezenas de milhares ao longo da tarde. Apresentações de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque na praia de Copacabana devem lotar a orla do Rio de Janeiro.



A última pesquisa Datafolha mostra que 54% da população rejeita a anistia a Bolsonaro e outros condenados por tentativa de golpe. A PEC da Blindagem também enfrenta resistência: o relator no Senado, Alessandro Vieira (MDB-SE), já disse que recomendará a rejeição do texto.
Medidas da Câmara
Na desastrosa terça-feira, 16, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 3 de 2021, apelidada de PEC da Blindagem. A medida permite que deputados e senadores só sejam presos em flagrante por crimes inafiançáveis previstos na Constituição, como racismo e terrorismo. Mesmo em flagrante, a manutenção da prisão ou da investigação depende de decisão da Casa em até 24h. A proposta também estabelece que um deputado ou senador só poderá ser processado durante o mandato se os colegas aprovarem. O texto também amplia o foro privilegiado no STF (Supremo Tribunal Federal) para presidentes nacionais de partidos com representação no Congresso. O projeto ainda precisa de aprovação no Senado para entrar em vigor.
Na quarta, 17, a Câmara aprovou a urgência do PL (Projeto de Lei) da Anistia, que busca perdoar crimes de condenados por tentativa de golpe e pela invasão dos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro. Com a urgência, o projeto pode ir direto ao plenário, sem passar por comissões. O projeto precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também pode vetá-lo.
SItuação no Senado
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado definiu na 6ª feira (19.set.2025) o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) como relator da PEC da Blindagegem. . O congressista já se posicionou contra a proposta e afirmou que recomendará sua rejeição. Vieira declarou que a PEC traz “enormes prejuízos para os brasileiros” e disse que o parecer será técnico e contrário ao texto. “Minha posição sobre o tema é pública e o relatório será pela rejeição, demostrando tecnicamente os enormes prejuízos que essa proposta pode causar aos brasileiros”, afirmou o relator. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), também se manifestou contra a medida. Ele classificou a PEC como um retrocesso para a democracia e para a transparência. “Manifestei meu posicionamento contrário e acredito que não encontrará aprovação na CCJ”, declarou. A liderança do MDB, uma das maiores bancadas do Senado, divulgou nota oficial afirmando que a proposta representa “impunidade absoluta” e “mina a igualdade perante a lei”.
Situação da Anistia
Já o projeto de lei da anistia tem como relator o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP). O congressista já sinalizou que não deve apresentar um texto para perdoar os condenados por tentativa de golpe de Estado, incluindo Bolsonaro. Paulinho, porém, avalia propor a redução das penas. Bolsonaro, por exemplo, foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão. O ex-presidente está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, usando tornozeleira eletrônica. Não se trata do cumprimento da pena. O político do PL foi alvo de uma medida cautelar do STF (Supremo Tribunal Federal), sob suspeita de tentar obstruir o julgamento no qual acabou condenado. Para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, Bolsonaro tentou obstruir o julgamento por meio do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal que está nos Estados Unidos desde fevereiro fazendo lobby por sanções contra autoridades brasileiras a fim de evitar a punição do pai. O governo Donald Trump já impôs tarifas de 50% para produtos brasileiros sob a justificativa de que o aliado Bolsonaro sofre uma “caça às bruxas”. Trump chegou a pedir que o julgamento do ex-presidente fosse interrompido “imediatamente”. O STF, porém, deu sequência ao caso e condenou Bolsonaro e outros 7 réus por tentativa de golpe, em decisão dada em 11 de setembro. Ainda há possibilidade de recursos no próprio tribunal, antes que as penas comecem a ser cumpridas.
Ato pela soberania
A mais recente manifestação da esquerda nas ruas foi realizada em 7 de setembro, em várias partes do Brasil. Na Praça da República, em São Paulo, os organizadores reuniram 4.300 pessoas, segundo cálculo do Poder360 a partir de imagens aéreas. O protesto teve como mote pedidos de condenação de Jair Bolsonaro (PL) por golpe –o ex-presidente acabou condenado em 11 de setembro– e defesa da soberania, por causa das tarifas e sanções do governo do presidente dos Estados Unidos contra o Brasil.
- Imagens aéreas do atos em São Paulo (esq. superior), Bahia (dir. superior), Natal (esq. inferior) e Brasília (dir. inferior) no começo da tarde deste domingo.
- Fonte: Poder 360/G1