Bolsas batem recorde com negociações de Trump com China e Brasil. Resultado ainda é incerto
28 de outubro de 2025 09:07A expectativa de um distensionamento nas negociações comerciais dos Estados Unidos com a China e com o Brasil levaram as principais bolsas a bater recorde ontem. Um dia após a reunião histórica entre o republicano Donald Trump e o presidente Lula, o Ibovespa renovou a máxima histórica, com alta de 0,55%, aos 146.969 pontos, mesmo sem novos passos concretos na direção de um acordo. Já o dólar teve queda de 0,42%, a R$ 5,37.
Não foi um movimento isolado. Na Ásia, o índice Nikkei subiu 2,46%, aos 50,5 mil pontos pela primeira vez na história, assim como a Bolsa de Xangai, aos 4.716 pontos. Na Europa, Londres teve leve alta, de 0,09%, mas suficiente para renovar sua máxima histórica, aos 9.653 pontos. Em Wall Street, os principais índices também renovaram máximas. O Dow Jones avançou 0,71%, enquanto o S&P 500 subiu 1,23%. Concentrando papéis de companhias de tecnologia, o Nasdaq avançou 1,86%.
– (O desempenho no Brasil) é muito sustentado pelo encontro entre Lula e Trump, mas também com expectativa de (encontro entre) Trump e Xi Jinping – disse Giovanni Bianchi, trader do BR Partners. – O mercado lê como positivo qualquer sinal de reaproximação entre a China e os EUA porque isso reduz o risco de fragmentação do comércio global e melhora as perspectivas de crescimento. Essa leitura tende a gerar reprecificação pró-risco, com alta das bolsas e fortalecimento de moedas emergentes.
Trump: “Vamos ver”
No dia seguinte ao encontro, Lula fez um balanço positivo da reunião, mas Trump foi menos confiante ao deixar a Malásia rumo ao Japão. Lula afirmou que era óbvio que não seria possível resolver tudo em uma só reunião: “Primeiro eu interpreto como óbvio. Não era possível, nem vocês acreditavam, que numa única conversa a gente pudesse resolver os problemas” – “, disse Lula em Kuala Lumpur antes de ir ao jantar de gala da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês). “O que nós estabelecemos é uma regra de negociação, e, toda vez que tiver uma dificuldade, eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem o meu telefone, eu tenho o telefone dele, nós vamos colocar as equipes para negociar”.
Além da suspensão de tarifas, Lula confirmou que sua prioridade é negociar o fim das sanções impostas pelos EUA contra autoridades brasileiras, entre elas o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Já o mandatário americano foi mais comedido, não deu certeza se os dois países chegariam a um acordo, mas parabenizou Lula pelo aniversário. “Não sei se algo vai acontecer, vamos ver. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver, agora eles estão pagando, acho que 50% de tarifa. Mas tivemos uma ótima reunião.”

“Tropa de choque” de Lula
Negociadores brasileiros e americanos se reuniram durante uma hora na manhã de ontem na Malásia (noite de domingo no Brasil) para definir como será o prosseguimento dos contatos. Quem esperava que os EUA concordassem de imediato com a demanda brasileira de cancelar o tarifaço contra o Brasil enquanto transcorrem as negociações ficou frustrado. Esse era considerado o plano A do governo brasileiro nos bastidores. Ainda assim, a reunião foi considerada positiva pelo governo. O chanceler Mauro Vieira se encontrou pessoalmente com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e conversou com o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. Participaram ainda o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Elias Rosa, e o assessor internacional da Presidência, Audo Faleiro. Pelo lado americano, além de Rubio e Greer, esteve presente o secretário do Tesouro, Scott Bessent. O objetivo do governo brasileiro é eliminar a sobretaxa de 40% em vigor desde agosto que se soma à tarifa de 10% anunciada por Trump em abril. O tarifaço afeta setores estratégicos da economia brasileira, como aço, alumínio, carne e café. Não se trata de uma precondição do governo brasileiro, mas assessores do Planalto dizem que é um “gesto de boa vontade” esperado dos americanos.
O plano B do Brasil na negociação seria ampliar a lista de itens isentos do tarifaço, começando por produtos já incluídos pelo próprio Trump como possíveis exceções por serem “recursos naturais indisponíveis” nos EUA.
Problema de agenda
Para dar continuidade a esse esforço, a ideia do governo brasileiro é enviar uma “tropa de choque” composta pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin. A expectativa é que a conversa possa ocorrer na próxima semana em Washington.
Apesar dos sinais positivos, ainda não ficou definido um cronograma claro, já que os assessores de Trump vão acompanhá-lo nos próximos dias na reunião de cúpula da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês), em Seul. Lá eles estarão envolvidos com um encontro que está no topo das prioridades da Casa Branca, entre Trump e o presidente da China, Xi Jinping.
Além disso, o governo brasileiro estará ocupado com a contagem regressiva para a COP30 em Belém, que começa dia 10. Mas caso seja marcada, a negociação com os americanos será considerada prioridade, disse uma fonte do governo brasileiro.
Alckmin reiterou que a prioridade do governo brasileiro é tirar os 40% de sobretaxa o mais rápido possível. Ele destacou que o diálogo entre os países deve incluir temas não tarifários, como a instalação de data centers no Brasil. Ele voltou a defender a aprovação da medida provisória que regula o setor, vista pelo governo como essencial para atrair investimentos.
“É importante aprovar a medida provisória no Congresso, porque isso estabelece, isso atrai investimento, que é o Redata. O Brasil tem energia abundante, energia renovável. Hoje, há falta de energia no mundo”, disse.
Segundo Alckmin, o governo americano ainda não apresentou pedidos específicos, mas há forte interesse do setor privado dos dois países em estreitar relações.
Procurados, os setores de carne e café, diretamente afetados pelo tarifaço, afirmaram que estão otimistas em relação à perspectiva de reavaliação das alíquotas impostas. No caso do café, as vendas para os EUA caíram 53% em setembro.
“Os últimos encontros entre os presidentes dos EUA e do Brasil têm sido mais positivos e, na Abic (Associação Brasileira do Café), estamos otimistas. As relações de longo prazo entre Brasil e EUA permitirão uma reavaliação equilibrada e responsável dessas tarifas, com base em critérios técnicos”, diz Pavel Cardoso, presidente da entidade.
- Imagem gerada em IA
- Fonte: O Globo