Moraes manda prender e depois soltar ex-ministro por suspeita de plano de fuga de Cid

14 de junho de 2025 10:58

A prisão de Gilson Machado (PL), ex-ministro do Turismo do governo Jair Bolsonaro (PL), conhecido como “ministro sanfoneiro” – por fazer performances em lives do ex-presidente – foi revogada por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), horas depois do ministro ter mandado prendê-lo, na sexta-feira passada, em Recife. O magistrado avaliou que as diligências realizadas pela Polícia Federal ao longo do dia foram suficiente e disse que a PGR (Procuradoria-Geral da República), na audiência de custódia, se manifestou pela substituição da prisão preventiva por medidas cautelares.

A PF faz operação contra o tenente-coronel Mauro Cid devido à suspeita de um plano de fuga do delator do processo da trama golpista. A suspeita é que Machado tenha atuado junto ao consulado de Portugal no Recife, no mês passado, para obter a expedição de um passaporte português em favor de Cid, segundo a PF. Seria uma ponte para sua ida para os Estados Unidos, onde já está o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que se auto-exilou no país. Os pais, a esposa e uma das filhas de Mauro Cid saíram do país e já estão nos Estados Unidos desde o dia 30 de maio.

“A informação reforça a hipótese criminal já delineada pela Procuradoria-Geral da República e evidencia a forte possibilidade de que Gilson Machado Guimarães Neto e Mauro César Barbosa Cid estejam buscando alternativas para viabilizar a saída de Mauro Cid do país, furtando-se à aplicação da lei penal”, disse Gonet ao pedir a prisão deles. Parte da família de Cid mora nos Estados Unidos.

Daniel Cid, irmão do militar, reside na Califórnia e abriga uma das filhas do militar há pelo menos três anos. O pai de Cid também morou nos Estados Unidos durante o governo Bolsonaro, nomeado para comandar uma agência do governo em Miami de 2019 a 2022. O advogado Célio Avelino, responsável pela defesa de Machado, afirmou que ele prestou depoimento a um delegado da PF.

De acordo com o advogado Célio Avelino, responsável pela defesa de Machado, o “sanfoneiro” deixará o presídio Cotel, em Abreu e Lima, na região metropolitana do Recife. Peça estratégica na acusação de tentativa de golpe contra Bolsonaro, Cid chegou a ter sua delação posta em xeque. Após prestar novo depoimento, foi liberado, e sua defesa afirmou que a colaboração premiada está mantida.

Cid foi à sede da PF no fim da manhã de sexta e, em depoimento, disse que a família viajou para o aniversário de uma sobrinha nos EUA. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro também foi questionado sobre mensagens encontradas em um perfil de rede social com o nome de sua esposa sugerindo que Cid contou para amigos detalhes de seus depoimentos à PF no âmbito da colaboração. As suspeitas foram reveladas pela revista Veja.

As mensagens mostram que um perfil fictício vinha enviando mensagens, em primeira pessoa, alegando que se sentiu pressionado pela PF e que os investigadores teriam um objetivo preestabelecido de prender Bolsonaro. Moraes determinou que a Meta envie dados sobre as contas suspeitas para confirmar se Cid usou o perfil. Em relação a Gilson Machado, a PGR havia dado na terça-feir, 10, aval para a PF investigá-lo. Segundo o documento assinado pelo procurador-geral Paulo Gonet, com informações da polícia, havia a suspeita de que o ex-ministro estaria atuando para viabilizar a saída de Cid do território nacional. Machado, porém, não teria obtido êxito na emissão do documento.

Em declaração a jornalistas ao chegar no IML, Machado negou que tivesse feito algum pedido relacionado a Cid. “Apenas pedi um passaporte para meu pai por telefone aqui no consulado do Recife”, afirmou. “Entrei em contato, ele foi lá no consulado juntamente com meu irmão”. Agentes da PF também apreenderam o celular e um carro de Machado.

A defesa diz não saber o que teria motivado a decretação da prisão e que pedirá informações a Moraes. “A Polícia Federal recebeu o mandado de prisão determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, mas a decisão não diz os motivos da prisão. Perguntaram a ele (no depoimento) se ele teria interferido para conseguir um passaporte para Mauro Cid e ele disse que não” afirmou o advogado Avelino. O depoimento do ex-ministro durou cerca de 10 minutos, segundo o advogado, que afirmou ainda que Machado relatou que a última vez que falou com Cid foi em 2022, após a eleição presidencial. Procurado no início da semana, Machado havia negado ter ido a qualquer consulado.

Ele acrescentou que apenas manteve contato telefônico, em maio, com o consulado português para solicitar uma agenda para renovar o passaporte de seu pai.

Em 2022, o “sanfoneiro” tentou o cargo de senador por Pernambuco, mas não foi eleito. Também concorreu a prefeito do Recife em 2024 e perdeu. Ele diz que Bolsonaro é seu mentor político, a quem afirma ser fiel. Nas redes sociais, ele se define também como veterinário e cristão conservador.

Mauro Cid deu entrada em 1 de fevereiro de 2023 em um pedido de reconhecimento de sua cidadania portuguesa. A mãe do militar é cidadã de Portugal, o que dá direito ao tenente-coronel de ter a carteira de cidadão do país. Esposa e filhas de Cid também já tinham cidadania portuguesa.

O processo junto à Embaixada de Portugal foi concluído em 2024, e o militar recebeu uma carteira de identidade com validade até 3 de janeiro de 2035. “A carteira portuguesa é apenas um documento de identificação, válida somente no país de origem, e que contém informações pessoais do seu titular de modo [a] permitir acesso em diversos serviços públicos e privados sema efetiva necessidade de outros documentos, limitada, tão somente, a identificação”, disse a defesa de Cid ao Supremo Tribunal Federal em fevereiro. O advogado Cezar Bitencourt destacou à época que Cid “não solicitou e não possui passaporte português, esse sim, documento que lhe permitiria, caso possuísse, viagens por qualquer país integrante da União Europeia”.

Imagem de capa mostra Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Jair Bolsonaro. Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Fonte: Folha de S.Paulo e UOL

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