Cid confirma que Bolsonaro pediu monitoramento de Alexandre de Moraes

9 de junho de 2025 17:39

O tenente-coronel do Exército Mauro Cid (à esquerda na foto) confirmou nesta segunda-feira (9) que o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu o monitoramento da rotina do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo Cid,  o pedido foi feito no final do mandato de Bolsonaro para verificar se Moraes teria se encontrado com o então vice-presidente da República, Hamilton Mourão.Play Video

Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Cid foi primeiro foi o primeiro réu do Núcleo 1 da trama golpista a ser interrogado por Alexandre de Moraes, relator da ação penal do golpe. O militar também está na condição de delator nas investigações.

De acordo com o militar, “era comum” o ex-presidente fazer pedidos de monitoramento de quem considerava um adversário político. Cid disse que a ordem foi repassada ao coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e que também é réu nas investigações da trama golpista.

“Por várias vezes, o presidente recebia algumas informações de que aliados políticos estariam se encontrando com adversários políticos. Então, foi comum a gente verificar se isso era verdade ou não. Não tinha nenhuma análise de inteligência. A gente perguntava para a Força Aérea ou via a agenda do ministro”, afirmou.

No início do interrogatório, Mauro Cid também confirmou que Bolsonaro tinha conhecimento sobre a minuta de golpe para estabelecer medida de estado de sítio para tentar reverter o resultado das eleições de 2022.

O depoimento deve prosseguir até as 20h.

Interrogatórios

De hoje até sexta-feira (13), Alexandre de Moraes vai interrogar presencialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto e mais seis réus acusados de participarem do “núcleo crucial” de uma trama para impedir a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o resultado das eleições de 2022.

Confira a ordem dos depoimentos:

  1. Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  2. Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
  3. Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
  4. Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
  5. Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  6. Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  7. Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  8. Walter Braga Netto, general do Exército e ex-ministro de Bolsonaro.
Interrogatórios dos réus da ação sobre a trama golpista, no STF. Foto: Ton Molina/STF

Réu no inquérito da trama golpista, o tenente-coronel Mauro Cid prestou novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, em um trecho de suas declarações, confirmou que, em 2022, Jair Bolsonaro (PL) pressionou o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira para a elaboração de um documento com duras críticas às urnas eletrônicas.

“Essa pressão existia. Sergio tinha uma conclusão nesse documento voltada para o lado mais técnico e, se tinha a tendência de algo mais político. Mas, ao final, chegou-se ao meio termo, e o documento foi assinado.

O STF já tornou 31 réus no inquérito da trama golpista. Entre eles, estão Bolsonaro, Mauro Cid e alguns ex-ministros do governo bolsonarista. No depoimento ao Supremo, o tenente-coronel afirmou que o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem (PL-RJ), atual deputado federal, não faziam parte dos núcleos golpistas. Também citou o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, como um aliado “radical” no sentido de implementar o golpe.

Minuta golpista

Em resposta a questionamento do ministro Alexandre de Moraes, o tenente-coronel disse que Bolsonaro recebeu e leu a minuta do golpe. “Sim [Bolsonaro] recebeu e leu. Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto não”, afirmou.

“Eu não me ative muito aos detalhes do documento, mas seria para conduzir uma nova eleição, baseada em uma eleição anulada. Eu presenciei grande parte dos fatos, mas eu não participei deles”, acrescentou.

O militar também revelou outra conduta grave: a de que Bolsonaro pediu o monitoramento da rotina do ministro Moraes. “Somente o senhor ficaria preso”, contou Mauro Cid a Moraes.

O papel de Brga Netto

O tenente Mauro Cid afirmou também que o general Braga Netto, ex-candidato a vice de Bolsonaro em 2022, atualizava o ex-mandatário sobre como estavam as mobilizações bolsonaristas em acampamentos próximos ao Planalto.

“Quem tinha esse contato externo, para atualizar o presidente (Bolsonaro) sobre o que estava acontecendo era o general Braga Netto”, disse Mauro Cid.

Dinheiro em caixa de vinho

O tenente disse que entregou ao major Rafael de Oliveira uma caixa de vinho com dinheiro. De acordo com o depoimento, o repasse foi feito a pedido de Braga Netto.

O major Rafael de Oliveira faz parte do grupo conhecido como “kids pretos”, que são militares das Forças Especiais do Exército. “Recebi (de Braga Netto) no Palácio da Alvorada. Numa caixa de vinho”, relatou Cid.

Oliveira e outros “kids pretos” são suspeitos de integrar um grupo armado que planejava a morte do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. O plano foi batizado de “Punhal Verde e Amarelo”.

Foto de Mauro Cid e advogado: Ton Molina/STF

Fonte: Brasil 247

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