
Retórica e bombas: Inteligência dos EUA aponta que bombardeios só atrasaram programa nuclear iraniano por poucos meses, contradizendo Trump
24 de junho de 2025 17:29Uma avaliação preliminar da Agência de Inteligência de Defesa (DIA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos contradiz publicamente a retórica do presidente Donald Trump sobre os recentes bombardeios contra instalações nucleares iranianas.
Segundo revelou a rede norte-americana CNN, que ouviu três fontes com acesso ao relatório, os ataques realizados no último fim de semana não destruíram elementos centrais do programa nuclear do Irã e, no máximo, provocaram um atraso de poucos meses nos avanços do país persa nessa área estratégica.

O documento, elaborado pelo braço de inteligência do Departamento de Defesa norte-americano, baseia-se em uma análise de danos conduzida pelo Comando Central dos EUA (Centcom) logo após os bombardeios. As conclusões iniciais, que ainda podem ser ajustadas à medida que novas informações forem obtidas, contrastam com as declarações inflamadas do presidente Trump, que afirmou que os bombardeios “aniquilaram completamente” as instalações de enriquecimento de urânio do Irã.
Centrífugas preservadas e estoque de urânio intacto
Fontes ouvidas pela CNN destacam que dois dos principais elementos do programa nuclear iraniano — as centrífugas utilizadas para o enriquecimento de urânio e o próprio estoque de material já enriquecido — não foram destruídos durante os ataques. “As centrífugas continuam em grande parte intactas”, disse uma das fontes. A mesma pessoa observou que, segundo o relatório da DIA, o impacto prático das ações norte-americanas foi limitado: “Os EUA só conseguiram atrasar o programa talvez por alguns meses, no máximo”.
Ainda segundo a reportagem, o governo Trump foi informado da existência desse parecer técnico, mas discorda das conclusões. No domingo, o secretário de Defesa Pete Hegseth reforçou a versão oficial ao declarar que “as ambições nucleares do Irã foram obliteradas”.
Retórica e realidade
A diferença entre a propaganda governamental e os dados técnicos sugere um esforço da administração Trump para sustentar uma narrativa de força e eficácia, mesmo diante de resultados mais modestos no campo militar. Essa prática é recorrente em ações de guerra conduzidas por potências ocidentais, que muitas vezes anunciam sucessos estratégicos sem respaldo técnico concreto.
A avaliação da DIA ainda está em curso, mas a versão inicial já lança dúvidas sobre a eficácia do ataque e pode influenciar futuras decisões diplomáticas e militares da administração norte-americana.
Imagem gerada a partir de IA
Fonte: Brasil 247/CNN, com agências internacionais