Trump ameaça retirar apoio a Israel em caso de anexação da Cisjordânia

24 de outubro de 2025 05:30

Se o cessar-fogo na Faixa de Gaza se mantém a duras penas, o governo americano tenta evitar o pior na Cisjordânia. Ontem, a Casa Branca deixou claro que Israel perderá o apoio dos EUA se tentar tomar o território palestino. O posicionamento foi uma reação à aprovação, pelo Parlamento israelense, em votação preliminar, de duas propostas que abrem caminho para a anexação.

Integrantes da cúpula do governo americano criticaram a medida. Donald Trump reforçou a posição em uma entrevista à revista Time publicada ontem. “Isso não vai acontecer, porque eu dei minha palavra aos países árabes”, disse o presidente americano sobre a anexação da Cisjordânia. “Israel perderia todo o apoio dos EUA se isso acontecesse.” A entrevista foi publicada um dia depois da votação no Parlamento. Os EUA são o aliado mais importante de Israel e o caso irritou o governo americano, que tem trabalhado duro para manter seus parceiros árabes no acordo de cessar-fogo em Gaza.

O vice-presidente americano, J.D. Vance, que encerrou ontem uma visita de dois dias a Israel, expressou raiva com a votação. Segundo ele, alguém lhe disse que se tratava de uma manobra política simbólica, sem significado prático. “Se foi uma manobra política, foi uma muito estúpida, e eu pessoalmente me sinto insultado”, disse. “A política do governo Trump é que a Cisjordânia não será anexada por Israel.”

Com o recado de Washington, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu tentou se distanciar da manobra. “A votação da Knesset (Parlamento) sobre a anexação foi uma provocação política deliberada da oposição para semear discórdia durante a visita do vice-presidente J.D. Vance a Israel”, afirmou o premiê, em comunicado em inglês.

As moções, apresentadas por dois membros da oposição parlamentar de direita, precisariam de vários outros votos para serem aprovadas como lei. Mas as discussões sobre a anexação ganharam mais urgência em Israel nas últimas semanas, desde que alguns países, incluindo alguns aliados ocidentais, decidiram reconhecer formalmente o Estado palestino.

Além disso, o momento é delicado, com uma série de visitas de autoridades americanas a Israel com o objetivo de reforçar o frágil cessar-fogo em Gaza, em vigor há apenas duas semanas, após dois anos de guerra.

Também em visita a Jerusalém, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que a anexação da Cisjordânia não era algo que o governo apoiaria. Ela poderia colocar em risco o acordo de cessar-fogo em Gaza, alertou.

Os membros da oposição linha-dura que apresentaram os projetos de lei têm suas próprias queixas contra Netanyahu. Outros integrantes centristas da oposição aproveitaram a votação para constranger o primeiro-ministro e expor divisões em sua coalizão.

Para aumentar o caos político, Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, de extrema direita e defensor ferrenho da anexação, insultou a Arábia Saudita, potência regional que Trump e Netanyahu há muito esperam que normalize as relações com Israel. “Se o preço dessa normalização for um Estado palestino, não, obrigado. Continuem montando camelos nas areias do deserto”, disse Smotrich, em referência à Arábia Saudita.

  • Trump ameaça retirar apoio a Israel em caso de anexação da Cisjordâniaice-presidente dos EUA, J.D.Vance visita Igreja do Santo Sepulcro no último dia de viagem a Jerusalém. Foto: Nathan Howard/AFP
  • Fonte: O Estado de S.Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *