
Combate a cartéis ou trama golpista? Trump assina ordem secreta para Pentágono deslocar forças militares para perto de Venezuela e México
18 de agosto de 2025 22:15Sim, você já viu esse filme. Após ordem de Trump, que segue dando tons imperialistas ao famoso slogan “Make America Great Again” (torne a América grande novamente), os Estados Unidos começaram a enviar tropas – esquadrilhas de aviões e frotas de navios – para a América Latina para supostamente enfrentar ameaças de cartéis de drogas na região, segundo a agência de notícias Reuters. Tropas das forças aéreas e navais foram despachadas pelo Departamento de Defesa americano para o sul do Mar do Caribe, disseram nesta quinta-feira (14) à Reuters duas fontes informadas sobre a decisão.
O envio ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter assinado secretamente uma ordem instruindo o Pentágono a usar a força militar em regiões da América Latina para combater cartéis de droga, como revelou uma reportagem do jornal americano “The New York Times”. “Essa mobilização tem como objetivo enfrentar ameaças à segurança nacional dos EUA provenientes de organizações narcoterroristas especialmente designadas na região”, disse uma das fontes à Reuters.
Trump já ameaçou, durante a campanha, “anexar” o México e até o Canadá – além de Groenlândia e o Canal do Panamá-, hoje presidido pela progressista Claudia Sheinbaum, além de mudar o nome do Golfo do México, reconhecido pelas Nações Unidas, para “Golfo da América”, em alusão ao fato de os Estados Unidos usarem o termo “America”, em inglês, para designarem o próprio país. Já o “inimigo do estado” histórico, a Venezuela, é um caso à parte. Trump não esconde que quer depôr o presidente do país, Nicolás Maduro, numa perseguição ao regime socialista implantado desde Hugo Chávez, que presidiu o país de 1999 até sua morte em 2013. Em ambos os casos, México e Venezuela, o governo Trump já deu declarações dizendo que os países são “essencialmente geridos por cartéis”.
Segundo o jornal “The New York Times”, Trump ordenou que as tropas americanas mirem grupos no México e na Venezuela, como o Tren de Aragua e o MS-13, e a operação contemplaria ações em solo, por mar e ataques aéreos. O Brasil não está incluindo inicialmente no programa.
O Exército americano se prepara para as operações militares desde a ordem de Trump, porém ainda há data de previsão para o início das incursões. A presidente do México, Claudia Sheinbaum minimizou a ordem de Trump. Disse que foi informada sobre ela e garantiu que não haverá operações militares dos EUA no país. Militares venezuelanos não acreditam que os Estados Unidos possam fazer um ataque militar contra o país. Setores das Forças Armadas afirmam não descartar nenhuma possibilidade de maneira definitiva, em se tratando de Trump, mas entendem que é mais uma ameaça e demonstração de força da Casa Branca.
A investida de Trump contra os cartéis estrangeiros pode enfrentar barreiras legais, já que, normalmente, o Congresso dos EUA têm que autorizar ações militares no exterior, além da possibilidade de que civis ou os próprios militares sejam mortos durante as operações, segundo o “The New York Times”.
Quando retornou à Casa Branca, em janeiro deste ano, Donald Trump anunciou uma campanha para combater cartéis de droga latino-americanos. Logo após tomar posse, sua gestão começou a pressionar governos da região para que classificassem esses grupos como terroristas. Em fevereiro, o governo Trump designou oito cartéis latino-americanos como organizações terroristas, entre eles o Tren de Aragua e o MS-13.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que está enviando tropas para o sul do mar do Caribe para realizar operações militares na região. Ele disse que o objetivo é prender traficantes latino-americanos e relacionou um desses grupos ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Ele reforçou, sem apresentar provas, a narrativa da Casa Branca de que Maduro é chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa. Em 25 de julho, o Departamento de Estado dos EUA classificou o grupo como um grupo terrorista internacional.
O governo brasileiro foi questionado por Washington sobre por que não considera organizações criminosas do país, com o PCC, como grupos terroristas.
Escalada nas ameaças
Desde as eleições municipais de 27 de julho, os EUA aumentaram o volume das declarações contra o governo venezuelanos. Em entrevista à Fox News, a procuradora-geral dos EUA, Pamela Bondi, disse que foram apreendidos mais de US$ 700 milhões em bens de Maduro. Ela disse que seriam “mansões, carros, aviões e joias” confiscadas, mas não apresentou nenhuma prova e não deu indicações de onde estariam esses bens.
Navas entende que essa escalada de ameaças é fruto de uma profunda crise que os EUA atravessam e que envolve uma disputa entre diferentes alas conservadoras pela influência no poder. Para ele, o grupo de Rubio busca ter essa preponderância até para reconquistar a “simpatia” da sua base de apoio da Florida, onde está concentrada a extrema direita latino-americana que vive nos EUA.
“Há um mosaico de interesses nos EUA que disputam espaço e buscam controlar a decisão política da Casa Branca. Rubio lidera um deles e ele exerce pressão no governo para empreender uma ofensiva contra a Venezuela em uma tentativa de derrubar o governo. Isso é uma escalada e uma resposta ao avanço do governo de Maduro que teve triunfos significativos nas últimas eleições regionais, legislativas e municipais”, disse.
Na semana passada, os EUA anunciaram o aumento para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) na recompensa por informações que levem à prisão do presidente Nicolás Maduro. A mensagem foi prontamente respondida pelo governo venezuelano. O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse que o anúncio é “uma operação de propaganda política ridícula e uma piada”.
Outro a se manifestar foi o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López. Ele afirmou que isso era “imoral” e reforçou que os grupos criminosos que tinham atuação na Venezuela, como o Trem de Aragua, estão “completamente desmantelados”.
Maduro também rebateu as acusações e disse que a resposta venezuelana pode ser “o começo do fim do império estadunidense”. Nesta quinta-feira (14), o mandatário chamou o avanço dos EUA de uma “guerra de declarações”.
Toda essa tensão também repercutiu na extrema direita venezuelana. A ex-deputada ultraliberal María Corina Machado agradeceu nesta quinta ao presidente republicano na “pressão para derrotar essa organização criminosa”.
- Arte Metrópoles
- Fonte: G1Reuters/NYT