
Vem novo tarifaço aí? Dependência de fertilizantes russos deixa Brasil vulnerável a mais taxações dos EUA
7 de agosto de 2025 08:49O Brasil pode ser alvo de novas taxas dos Estados Unidos por comprar fertilizantes da Rússia, seu principal fornecedor. Os fertilizantes químicos funcionam como um tipo de adubo, usado para preparar e estimular a terra para o plantio.
O presidente Donald Trump aplicou uma tarifa adicional à Índia nesta quarta-feira (6) por comprar petróleo dos russos. Segundo ele, isso contribui “para a manutenção da guerra contra a Ucrânia”.
Com a nova taxa, a tarifa total aplicada à Índia subiu para 50% — empatando com a do Brasil e deixando o país asiático entre os mais taxados por Trump.
Ainda na quarta-feira, Trump declarou que mais tarifas podem ser impostas.
Se o Brasil for alvo de algo semelhante, a produção de alimentos no Brasil pode ser afetada, com aumento nos custos para o agricultor e o consumidor, diz o consultor Carlos Cogo.
Segundo o especialista, a dependência da importação do Brasil torna o país “vulnerável” a esses tipos de aumento.


No mercado de fertilizantes, existem três insumos que são os mais relevantes, que formam o NPK, aponta Cicero Lima, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV AGRO). São eles:
- o nitrogênio (N), que o Brasil importa 95%;
- o fosfato (P), o qual 75% é comprado no exterior;
- e o potássio (K), com 91% vindo de fora do país.
Os principais motivos que explicam essa dependência.
➡️Faltam matérias-primas: no país, não há muitas reservas de componentes que são fundamentais para a produção dos fertilizantes, principalmente nitrogênio e potássio.
O potássio, por exemplo, está concentrado em países como Canadá, Rússia e Bielorrússia, que dominam o mercado mundial.
Já a indústria nacional de nitrogenados é pequena, porque a produção exige gás natural barato. Assim, perde competitividade frente a países como EUA, Rússia e Catar.
No caso do fosfato, as reservas têm qualidade inferior e são mais caras de explorar.
➡️Demanda grande: a produção nacional não consegue atender tudo o que a agricultura brasileira consome de fertilizante.
Apesar de ser grande produtor de alimentos, o Brasil tem solo pobre em nutrientes. Por isso, precisa de adubação frequente para manter a produtividade. Saiba mais abaixo.
Essa procura por fertilizante vem, principalmente, de produtos como a soja, milho, café e cana-de-açúcar.
➡️ Altos custos: importar sai mais barato, porque a logística no Brasil é cara e a infraestrutura é limitada, aponta Cogo.
O Brasil tem um Plano Nacional de Fertilizantes, criado em 2022. A meta é produzir entre 45% e 50% do insumo que o país consome até 2050.
Para isso, o governo pretende gastar mais de R$ 25 bilhões até 2030, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.
Para o consultor Cogo, são necessários grandes investimentos, incentivos e infraestrutura para aumentar a produção.
Dá para trocar de fornecedor?
A Rússia é o 2° maior produtor mundial de fertilizantes potássicos e nitrogenados e o 4° maior de fosfatados. Em 2024, o país foi o principal fornecedor desses insumos para o Brasil, sendo, de acordo com a consultoria Cogo:
- 53% de fosfato monoamônico (que fornece nitrogênio e fósforo às plantas);
- 40% de cloreto de potássio;
- 20% de ureia.
“É um volume muito grande para que qualquer outro fornecedor consiga atender à demanda do Brasil”, diz Lima.
Trocar a Rússia no fornecimento desses componentes para o Brasil não seria rápido, aponta Cogo. Isso porque seria necessário fazer uma reestruturação logística das compras e realizar negociações diplomáticas para fechar novos acordos e abrir mercados.
Entre as alternativas possíveis de novos vendedores, o Brasil poderia ampliar parcerias com Canadá, Marrocos, Nigéria e outros países do Oriente Médio, afirma Cogo.
Mas ele alerta que outros países também buscam evitar sanções e podem disputar os mesmos fornecedores.
Por que o Brasil consome tanto fertilizante?
O Brasil é o 4° maior consumidor de fertilizantes do mundo. Isso acontece porque o solo do país é quimicamente pobre em nutrientes, principalmente no Cerrado, afirma Cogo.
Segundo o consultor, a região tem baixa disponibilidade de elementos essenciais, como fósforo e potássio, além de ter elevada acidez.
Somado a isso, está o clima tropical do país. O Brasil sofre com chuvas intensas, que favorecem a lixiviação, processo em que os nutrientes são rapidamente perdidos do solo.
É diferente do que acontece em países de clima temperado, onde a terra é naturalmente mais fértil e as perdas são menores.
A agricultura intensiva também aumenta a necessidade de fertilizantes. Ela permite várias safras por ano, o que exige reposição constante de nutrientes.
Os cultivos que são voltados para a exportação, como a soja, o milho, a cana-de-açúcar, o café e o algodão, exigem muitos nutrientes. Portanto, precisam de grandes volumes de adubos químicos para manter produtividade.
- Arte Metrópoles / Gabriel Lucas
- Fonte: G1