
Em meio a intensa ofensiva militar contra Gaza, Netanyahu confirma encontro com Trump
17 de setembro de 2025 08:10O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmou que se reunirá com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no próximo dia 29 de setembro, na Casa Branca. A informação foi divulgada pelo próprio Netanyahu em coletiva de imprensa em Jerusalém, na terça-feira, 16. O encontro ocorrerá três dias após o discurso do premiê na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, informa o jornal The Times of Israel.
Além de anunciar a viagem, Netanyahu aproveitou a ocasião para enviar um recado contundente ao Hamas, advertindo que qualquer dano aos prisioneiros em poder do movimento palestino terá consequências severas. “Se eles ferirem um fio de cabelo de um único refém, nós os caçaremos com força ainda maior até o fim de suas vidas — e esse fim virá muito mais rápido do que pensam”, declarou.
Apoio dos EUA e tensão diplomática
Netanyahu afirmou que o convite partiu de um telefonema feito por Trump na segunda-feira (15). Este será o quarto encontro entre os dois líderes desde o início do segundo mandato do republicano em janeiro. O anúncio foi feito em meio à intensificação da ofensiva israelense contra a Cidade de Gaza, com respaldo declarado de Washington.
Durante visita oficial a Israel, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reiterou o alinhamento de Washington. “O resultado ideal é que o Hamas simplesmente se renda, mas pode ser necessária, em última análise, uma operação militar concisa para eliminá-los”, afirmou. Rubio evitou críticas à ação de Israel no Catar, onde líderes do Hamas foram alvo de um ataque aéreo no dia 9 de setembro, que resultou em seis mortes, mas não atingiu os principais dirigentes do grupo
Catar sob críticas de Netanyahu
Questionado sobre o papel do Catar como mediador, Netanyahu foi categórico: “O Catar fortalece o Hamas. Ele abriga, financia e tem instrumentos muito mais fortes para pressionar. Escolheu não usá-los”. O premiê insistiu que a ofensiva contra os líderes do grupo em Doha foi “totalmente justificada”.
A declaração ocorre em meio a pressões internacionais crescentes. Países árabes realizaram uma reunião de emergência após o ataque, enquanto nações da União Europeia passaram a discutir embargos de armas a Israel, acentuando o isolamento diplomático do país.
Economia e isolamento internacional
Na coletiva, que inicialmente tinha como foco a economia, Netanyahu tentou conter danos provocados por declarações anteriores. Ele havia afirmado que Israel deveria se preparar para se tornar uma “super-Esparta” diante do isolamento, o que gerou reação negativa nos mercados. “Houve um mal-entendido que supostamente abalou a bolsa. Não nos abalou. O mercado entende a força da nossa economia e a rentabilidade de investir em Israel”, garantiu.
O premiê também ressaltou que, caso embargos de armamentos avancem, Israel precisará fortalecer sua indústria bélica. “Se há uma lição desta guerra, é a de que devemos desenvolver uma indústria de defesa forte e independente”, disse.
A questão dos prisioneiros e a ofensiva em Gaza
O tema dos prisioneiros em poder do Hamas dominou parte da coletiva. Netanyahu contou ter discutido o assunto com Trump na última ligação entre eles. O presidente dos EUA já havia condenado o uso de prisioneiros como escudos humanos pelo Hamas. “Isso é horrível. Também horrorizou o presidente. Ele falou sobre isso”, relatou Netanyahu.
Paralelamente, o Exército israelense ampliava a operação terrestre em Gaza, ao mesmo tempo em que milhares de palestinos deixavam a região. Segundo estimativas das Forças Armadas de Israel (IDF), mais de 370 mil pessoas já haviam evacuado a Cidade de Gaza até a manhã de terça-feira, número superior ao divulgado anteriormente pela ONU, de 220 mil deslocados em um mês. O número pode ultrapassar 500 mil pessoas expulsas de suas casas no enclave palestino.
Escalada militar e pressões internas
A conferência de imprensa aconteceu em clima de tensão, marcada inclusive pelo disparo de sirenes que levou jornalistas ao subsolo do gabinete do premiê, após o lançamento de um míssil pelos houthis a partir do Iêmen.
Netanyahu também rejeitou relatos de divergências com o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, sobre a condução da guerra. “Vazamentos falsos e briefings enviesados atrasam a libertação dos reféns, colocam soldados em risco e reduzem sua moral. Isso é absolutamente inaceitável”, afirmou.
A crise, portanto, coloca Netanyahu no centro de pressões externas e internas — entre a necessidade de garantir apoio internacional, as demandas de famílias de prisioneiros e a cobrança por resultados imediatos na guerra em Gaza.
- Milhares de palestinos deixam a Cidade de Gaza após forças israelenses emitirem ordem de retirada de 500 mil pessoas. Israel itensificou bombardeios e o cerco terrestre para tomar controle da capital do enclave palestino. Foto: Eyad Baba/AFP
- Brasil 247/The Times of Israel