Corte à direita: governo de Bukele impõe código de vestimenta e corte de cabelo a estudantes em El Salvador

24 de agosto de 2025 16:36

O presidente de direita de El Salvador, Nayib Bukele, fundador do partido Nuevas Ideas, – marcado por uma combinação de popularidade elevada e medidas autoritárias – , proibiu um corte de cabelo específico nas escolas públicas do país. Trata-se do chamado “corte Edgar”, caracterizado pelas laterais e parte traseira bem curtas, às vezes raspadas, enquanto a parte superior é mais longa, geralmente com uma franja reta. A “disciplina escolar” é uma obsessão da nova ministra da Educação, Karla Trigueros, capitã do Exército.

Segundo Bukele, essa moda capilar foi introduzida em El Salvador por criminosos deportados que, em sua avaliação, se inspiram em organizações delitivas latino-americanas radicadas nos Estados Unidos. A imprensa local informa que o estilo, popular entre jovens, surgiu quando um fã pediu ao barbeiro Anthony Reyes um corte inspirado no jogador de beisebol Edgar Martínez. O design foi compartilhado nas redes e rapidamente viralizou.

Fiscalização de corte de cabelo na entrada das escolas de El Salvador
Fiscalização de corte de cabelo na entrada das escolas de El Salvador. Foto: Reprodução /X.

Estudantes de El Salvador lotaram as barbearias do país nos últimos dias na tentativa de respeitar a medida de “corte de cabelo aceitável” , que entrou em vigor esta semana, após ser provada pelo governo de Nayib Bukele. De acordo com a ministra da Educação, esta e outras exigências seriam necessárias para “fortalecer a disciplina e a ordem” nas escolas.

Apesar disso, o Ministério de Educação, Ciência e Tecnologia de El Salvador mantém uma cruzada contra o corte, também conhecido como “takuache”. O visual está associado à cultura de estados fronteiriços entre os EUA e o México, marcada por valores exaltados em gêneros musicais como rancheras e corridos.

Na última semana, a pasta emitiu uma ordem que obriga diretores de escolas a inspecionar diariamente a aparência dos estudantes: uniforme limpo e arrumado, corte de cabelo adequado, apresentação pessoal “correta” e entrada em sala de forma ordenada, com cumprimento respeitoso.

O próprio Bukele compartilhou nesta quinta-feira, em suas redes sociais, a notícia que repercutia a proibição do corte de cabelo, bem como sua suposta ligação com a cultura criminal.

Educação militarizada e disciplina rígida

Cartaz mostra cortes permitidos para estudantes de El Salvador. Foto: Ministério da Educação de El Salvador/Divulgação

As medidas coercitivas contra estudantes não traz surpresas, apenas o receio do que mais pode vir. Como todo regime autoritário, o governo Bukele passou a aplicar normas estritas nas escolas públicas, não so no corte de cabelo, mas niformes limpos e comportamento disciplinado. A ministra da Educação, Karla Trigueros, lidera essa iniciativa, que inclui inspeções diárias e cerimônias cívicas semanais

Embora alguns pais apoiem as medidas por promoverem ordem, críticos apontam para uma militarização da educação e possíveis dificuldades para famílias de baixa renda em cumprir as exigências.

Segurança pública: repressão “eficaz”, mas controversa

Desde 2019, Bukele implementou o “Plano de Controle Territorial”, uma estratégia de combate às gangues que resultou na prisão de mais de 88 mil supostos membros de organizações criminosas. Essa política levou a uma queda significativa nos índices de homicídio, que passaram de 52 por 100 mil habitantes em 2018 para 7,8 em 2022 .

No entanto, a repressão tem sido criticada por abusos de direitos humanos, detenções arbitrárias e uso excessivo da força. O regime de exceção, decretado em março de 2022, foi prorrogado diversas vezes, permitindo prisões sem mandado judicial e restrições a liberdades civis.

Concentração de poder e erosão democrática

Bukele tem consolidado seu poder por meio de reformas institucionais. Em 2021, sua bancada na Assembleia Legislativa destituiu magistrados da Suprema Corte e o procurador-geral. Mais recentemente, foram aprovadas reformas constitucionais que eliminam limites de reeleição presidencial e estendem o mandato de cinco para seis anos.

Em agosto passado, a Assembleia Legislativa de El Salvador, dominado pelo partido governista, votou pela remoção dos limites dos mandatos presideciais da Constituição – o que, dentro do manual do ditador, confere a Bukele, com apenas 44 anos, reeleição por tempo interminado o país de 6,3 milhões de habitantes.

Essas ações têm gerado preocupações sobre a consolidação de um regime autoritário, com críticas de que Bukele está minando os freios e contrapesos democráticos e restringindo a liberdade de imprensa.

Apesar das críticas, Bukele mantém altos índices de aprovação, superiores a 80%, impulsionados principalmente pela percepção de maior segurança e combate eficaz às gangues.

  • O ditador salvadorrnho Nayib Bukele, que tem obsessão em controlar das roupas ao ensino nas escolas do país. Foto: Getty Images.
  • Fonte: Brasil 247/G1/The Economist

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