Em dose dupla: “O Agente Secreto”, longa de Kleber Mendonça Filho, leva em Cannes prêmios de melhor diretor e também para Wagner Moura, eleito melhor ator

24 de maio de 2025 20:35

Depois de “Antiga estamos aqui”, veio “O Agente Secreto” que consagrou a nova safra do cinema nacional. Curiosamente, ambos os filmes abordam a época da ditadura. Se “Ainda estou aqui” conta a história real da família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos -, até que Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece, “O Agente Secreto” – que pelo título poderia insinuar uma comédia -, conta como um professor especializado em tecnologia decide fugir de seu passado violento e misterioso se mudando de São Paulo para Recife com a intenção de recomeçar sua vida, mas que começa a ser espionado pelos vizinhos. Mais não digo para não sair um spoiler.

Assista o teasr do filme aqui.

“O Agente Secreto”, dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho e estelado por Wagner Moura – o diretor já concorreu com “Bacurau” -, foi premiado com o troféu da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema) no Festival de Cannes, na França. A principal láurea do evento foi “A Simple Accident”, do iraniano Jafar Panahi. Não ofusca a dupla vitória brasileira.

“A Simple Accident”, de Jafar Panahi, que venceu Cannes, tem um caráter simbólico. Em 2010, o diretor foi condenado ao silêncio (deixou de poder filmar e de poder sair do país, o que não fez) e, há três anos, voltou a ser preso, pela sua liberdade de expressão e pela sua visão inequívoca da sociedade e da política no Irã.

É a primeira vez na história que um ator brasileiro ganha o prêmio no festival. O diretor Kleber Mendonça Filho também foi premiado, levou a estatueta de melhor direção — é a primeira vez desde Glauber Rocha que um diretor do país leva esse troféu, por “Terra em Transe”, de 1967 – em plena ditadura. Em 2006, por decreto federal do Governo Lula, o arquivo privado de Glauber Rocha tornou-se de interesse público e social por possuir documentos relevantes para o estudo e pesquisa sobre as formas de pensamento e expressão artística, bem como sobre a elaboração de linguagem inovadora para o cinema brasileiro.

“Essa foi a primeira vez que o Brasil levou dois prêmios em uma mesma edição do Festival de Cannes. “Eu queria mandar um abraço para todo mundo que está vendo no Brasil, especialmente para Recife e Pernambuco”, disse Kleber ao receber o prêmio de melhor direção. Wagner estava filmando em Londres para outra produção. “Eu queria estar aí, mas estou aqui tomando uma taça de vinho em Londres, sozinho”, disse ele durante a entrevista do diretor a jornalistas. Ouça depoimento de Wagner no Instagram.

Com este reconhecimento da crítica internacional, Kleber Mendonça Filho consolida sua trajetória como um dos cineastas mais relevantes da atualidade. Esta é a segunda vez que disputava a Palma de Ouro;. A primeira foi em 2019, com “Bacurau”, co-dirigido com Juliano Dornelles, que saiu do festival com o Prêmio do Júri.

Cena de “O Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, com Wagner Moura, e grande elenco

“O Agente Secreto” chegou a Cannes como um dos filmes mais comentados da mostra oficial, sendo elogiado pela imprensa especializada pela abordagem ousada e pela estética marcante, características recorrentes na filmografia do diretor.

A trama é ambientada na década de 1970 e gira em torno de Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário que foge de São Paulo para Recife para escapar de agentes governamentais que o procuram por atividades subversivas

Criada em 1930, a Fipresci é uma das entidades mais tradicionais do jornalismo cinematográfico, reunindo críticos de cinema de mais de 50 países. Seu prêmio é considerado um dos mais importantes paralelos à competição oficial do festival. O júri destacou os motivos que levaram a escolha pela produção brasileira. 

“Escolhemos um filme que tem uma generosidade romanística e épica; um filme que permite digressão, diversão, humor e caráter para evocar um tempo e lugar e uma história rica, estranha e profundamente preocupante de corrupção e opressão. Um filme que faz suas próprias regras, que é pessoal, mas universal, que leva seu tempo e mergulha você em um mundo – o mundo do Brasil governado pelos militares em 1977 e o mundo das pessoas boas em tempos ruins”.

Lula reage

“Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. De comemorar o reconhecimento que nossa arte tem no mundo. E de curtir a felicidade de viver em um país que tem gigantes do porte de Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura”, afirmou o presidente, marcando-os nas redes sociais.

Foto: Divulgação
Fonte: G1, Folha de S.Paulo, CNN, UOL, Metrópoles e outros

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