MP liga gestores de fundos da Faria Lima a negócios diretos com o PCC

15 de outubro de 2025 09:55 | Publicado por Leandro Fortes

A relação das gestoras de recursos Reag Administradora de Recursos e Altinvest com o Primeiro Comando da Capital (PCC), revelada pela Operação Carbono Oculto, vai além da administração de fundos de investimentos ligados à organização criminosa, segundo o Ministério Público de São Paulo (MP-SP). À Justiça, os promotores disseram que a Reag e alguns de seus sócios e diretores, além de acionistas da Altinvest, têm participações em negócios ligados à facção, entre outras conexões.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, as duas empresas e pessoas ligadas a elas criaram estruturas jurídicas e societárias, bem como estiveram à frente de fundos de investimento, que dificultaram a identificação dos verdadeiros donos de ativos que pertencem ao crime organizado.

Além dessa ocultação, ao assinarem como representantes das gestoras em aquisições de negócios, os envolvidos viabilizaram juridicamente entrada e saída de recursos ilícitos. Em alguns casos, participaram da gestão operacional de empresas adquiridas com esses fundos, que têm recursos “sem origem no sistema financeiro”, como afirma o MP.

Em documentos do Gaeco sobre a Operação Cassiopeia, que envolveu várias pessoas do mesmo grupo e foi iniciada em março de 2023, há diferentes exemplos de tentativas de transações financeiras da facção em bancos como Santander e Safra. Sem que os depositantes pudessem comprovar a origem dos recursos, os valores foram reportados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e devolvidos aos donos, que fazem parte do grupo criminoso, diz o MP. Algumas transações superavam R$ 50 milhões.

A teia intrincada: algumas ligações das gestoras e seus sócios com negócios conectaddos ao PCC, segundo a Gaeco. Infográfico Estadão/Reprodução

As ligações entre Reag e o grupo, porém, não têm a mesma dinâmica. Conforme o Gaeco, a Reag, por exemplo, tem presença estruturada em operações com usinas de açúcar e etanol controladas pela facção no interior paulista. A Reag e Walter Martins Ferreira III, sócio da gestora até junho, constam como representantes legais da Usina Itajobi, de Catanduva (SP). Ela foi comprada via fundo Mabruk II, gerido pela Reag e cujos recursos, segundo o MP, são de Mohamad Mourad, principal suspeito de lavar dinheiro do PCC.

‘PRIMO”, Conhecido como “Primo”, Mourad é descrito como o “epicentro das operações”, e montou a rede criminosa para fraudes fiscais, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. Ele e seu grupo são donos de diversos negócios, muitos de fachada. Além das usinas, há distribuidoras, formuladoras e postos de combustíveis, imóveis, empresas de logística e terminal portuário,diz a denúncia. Com prisão decretada, Mourad está foragido.

A Reag e Ferreira III figuram como representantes da Itajobi em procuração pública anexada ao pedido de quebra de sigilo contra os acusados, feito à Justiça pelo Gaeco. Quem assina a procuração pública como representante da Reag é Ramon Dantas, diretor executivo da principal empresa do grupo, a Reag DTVM.

Ferreira III tem papel mais ativo no negócio, diz o Gaeco. Ele figura na procuração como diretor administrativo, financeiro e comercial da Itajobi. E foi eleito, em novembro de 2024, diretor de compliance e lavagem de dinheiro da Reag.

Na investigação, Dantas aparece ainda como representante da Reag em operações imobiliárias envolvendo a Urban Prime, que pertence ao fundo Zurich e recebeu imóveis ligados ao PCC, diz o Gaeco. Assina ainda como representante do Fundo Participation na sociedade de participações Monroy West Agro, ao lado de Armando Houssein Ali Mourad, irmão de Mohamad. Surge ainda como representante de outros fundos com participações ou sociedades ligadas a esse grupo, afirma o Gaeco.

Um terceiro sócio da Reag, Silvano Gersztel, assina pela gestora como representante do fundo Mabruk II, no contrato de aquisição da Itajobi. O Gaeco diz que, além de integrarem os quadros da Reag, Dantas e Gersztel “atuaram em circunstâncias imprescindíveis para a operacionalização dos fundos de investimento para os propósitos do grupo Mohamad”. Mourad se apresentou, em reportagem no site da Associação dos Fornecedores de Cana da Região de Catanduva, em dezembro de 2023, como João Mourad, sócio-proprietário da Itajobi, detalhando planos para a usina.

Ferreira III, Gersztel e Dantas também são sócios da RPN Partners Participações, holding de instituições não financeiras que opera no mesmo endereço de outras sete empresas com alguma ligação com Mourad, segundo o MP. Tanto a RPN quanto essas outras companhias funcionam em uma rua de Santana, zona norte da capital. O compartilhamento de endereços é prática comum a diferentes empresas do grupo conectado a Mourad. Parao MP-SP, a prática facilita triangulação de notas fiscais, simulação de operações comerciais e lavagem de capitais.

Postos

A denúncia do MP mostra que Rogério Garcia Peres, sócio da Altinvest, também participa de empreendimentos ligados ao grupo investigado. Peres é do conselho de administração da Rede Sol Fuel, distribuidora de combustíveis que tem ligações, segundo o MP, com o grupo de Mourad. Também é sócio de postos em Catanduva e Araçatuba com Valdemar de Bortoli Junior, presidente da Rede Sol.

  • O dia da megaoperação da Polícia Federal, PM e Garco- a operação Carbono Oculto, a maior da história contra o crime organizado – no maior centro financeiro do país. Foto: Receita Federal
  • Fonte: O Estado de S.Paulo

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