
Mundo perde artista da imagem: militante da natureza e dono de uma obra exuberante, morre, aos 81, fotógrafo Sebastião Salgado.
23 de maio de 2025 14:49 |O mundo perdeu um Deus da fotografia, um dos artistas que melhores retraram o mundo em que vivemos, em suas enormes contradições, diferenças, e com uma empatia inigualável. Morreu o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, aos 81 anos, nesta sexta-feira (23). A informação foi confirmada pelo Instituto Terra, fundado por ele e sua esposa, Lélia Wanick. O fotógrafo morreu em Paris. A causa da morte não foi divulgada. Não há dúvidas de que seu trabalho vai ficar para sempre na memória. Ele deixou um acervo com mais de 500 mil trabalhos em seu estúdio em Paris, onde vivia com sua esposa e o filho.

Nascido em 1944 em Minas Gerais, ele deixa dois filhos. Salgado iniciou sua carreira em 1973 já visitou mais de 100 países para desenvolver projetos de fotografia. Em 2014, o documentário O Sal da Terra, codirigido pelo premiado cineasta alemão Wim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, foi premiado em Cannes e indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Relembre fotos marcantes de Sebastião Salgado, no site da CNN.

O fotógrafo Sebastião Salgado, que morreu nesta sexta-feira (23), falou com a CNN em 2022 sobre uma de suas mostras na cidade de São Paulo. A exposição “Amazônia” estava em cartaz na capital paulista depois de passar por Paris, Londres e Roma.
O evento continha 194 fotografias e uma verdadeira experiência de imersão na floresta amazônica brasileira e todo o seu povo.
Salgado contou que ele e sua mulher, Lélia Wanick – que idealizou e montou a exposição, baseada no livro do fotógrafo “Amazônia”, lançado em 2021 –, se inspiraram nos sete anos que passaram fotografando as florestas, os rios, as montanhas e os indígenas dessa região, que cobre o Norte do Brasil e se estende a mais oito países sul-americanos, ocupando um terço do continente. “A Amazônia me impactou profundamente”, disse.
“É um privilégio. É um espaço com mais de 180 culturas e línguas diferentes. Sem dúvida o espaço amazônico possui a maior concentração cultural do planeta.”
Em meio às fotografias de Salgado, uma trilha sonora elaborada pelo compositor francês Jean-Michel Jarre a pedido do fotógrafo dá o tom imersivo à experiência de se estar ali. Jarre teve acesso ao Museu de Etnologia da cidade de Genebra, na Suíça, e utilizou os sons da floresta que, segundo Salgado, são o fio condutor de todo o trabalho. “Ele compôs uma música de 52 minutos que usa esses sons no fundo. É uma música linda”, diz.
O fotógrafo falou, na época, que viu uma diferença muito grande entre a Amazônia dos anos 1980 e do começo dos anos 2000, períodos que passou na região. “Eu vi que estava havendo uma predação imensa do território. Então resolvi, como brasileiro, abdicar alguns anos da minha vida para realizar um trabalho sobre o bioma amazônico. A exposição não é só das comunidades indígenas, é também delas.”
“Os povos indígenas jamais estiveram tão ameaçados quanto hoje, mas existem organizações que estão trabalhando na mesma intensidade, como uma linha de frente na luta pelo bioma amazônico.”

Para Sebastião Salgado, ele conecta sua vida à sua linguagem, a fotografia. “Fotografia é a minha vida, o que penso, acredito, amo. Está tudo dentro dela.”
“Amazônia” está em cartaz até 10 de julho em São Paulo. Estreia no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, no dia 19 de julho.

O Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou nesta sexta-feira (23) a morte de Sebastião Salgado, considerado um dos fotógrafos mais importantes do mundo. Salgado morreu hoje aos 81 anos, de acordo com o Instituto Terra, organização não governamental fundada por ele. Em comunicado à imprensa, Lula lembrou do “inconformismo” do fotógrafo com a desigualdade social. “Salgado não usava apenas seus olhos e sua máquina para retratar as pessoas: usava também a plenitude de sua alma e de seu coração”, disse o presidente da República.
“A morte de Sebastião Salgado nos priva não apenas de um dos maiores fotógrafos de todos os tempos. Reconhecido no mundo inteiro como um gênio, ele foi mais do que um grande profissional da fotografia. Colocou suas lentes a serviço da natureza, da humanidade e sobretudo dos pobres e oprimidos”, afirmou, em nota, a ex-presidente Dilma Rousseff – hoje presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco do Brics).

E resumiu o fotógrado da Presidência, o fotojornalista Ricardo Stuckert: “Seu olhar especial capturou as dores e belezas da humanidade, ultrapassando fronteiras e culturas. Cada vez que nos sentávamos para conversar, era como ter uma aula mestra sobre arte, Amazônia e fotografia. Aos 81 anos, ele deixa um legado enorme, mostrando que a arte pode ser uma voz forte de mudança e uma ferramenta poderosa para a conscientização”.
Fotos: Divulgação
Fonte: CNN, G1, Casa Cor e diversos sites.