
“Elogio a Lula foi espontâneo, não planejado”, diz porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. Diplomatas vão organizar encontro improvável entre Lula a Trump
23 de setembro de 2025 19:00 |Em entrevista à Globonews desta terça-feira (23), a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Amanda Robertson, falou sobre o discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU. O presidente americano afirmou que teve uma “ótima química” com Lula e que “só faz negócios” com quem ele gosta. Ela disse que
“Realmente, foi um momento espontâneo. O encontro que eles tiveram nos bastidores não foi planejado. O presidente Lula estava saindo e presidente Trump entrando, e nesse corredor tiveram alguns momentos para falar. E os dois aproveitaram a oportunidade da falar cara a cara. Foi uma conversa breve, espontânea, boa. Agora, vamos ver o que vai acontecer com uma possível reunião”, comentou Amanda, referindo-se ao encontro que Trump disse que fará com Lula na próxima semana.
Veja comentário do correspondente da TV Globo, Guga Chacra, nas redes.
A porta-voz também sinalizou que as tarifas impostas ao Brasil podem entrar na pauta e que agora é o momento de reavaliar a relação comercial entre os países e, segundo ela, modernizar os acordos. “Sabemos que os dois países têm laços econômicos muito fortes, com muitas empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos e vice-versa. Então, ”, disse.
Segundo ela, ainda não há detalhes sobre essa reunião, e os diplomatas vão organizar para que ela aconteça. “Vamos organizar os detalhes do encontro de Trump com Lula”, disse ela, no que talvez tenha sido a mais inesperada consequência da sequência de discursos entre Lula, primeiro, e Trump, depois, no parlamento da ONU. Lula não fez um difícil de conciliação, rebateu vários pontos da política externa norte-americana, chamando o extermínio de palestinos em Gaza de “extermínio”, e não poupou círitcas ao tarifaço, chamando-o de “medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”. “Democracia e soberania do Brasil são inegociáveis”, disse.
Trump, no entanto, que cruzara com Lula no corredor, decidiu, mesmo assim, chamar Lula ao diálogo, em plena tribuna da ONU – algo queo governo brasileiro faz há tempos, e é ignorado. Trump não só elogiou a “química” com Lula, no breve esbarrão no corredor, como marcou com ele uma reunião para a próxima semana – em dia e local incerto.
O afago de Donald Trump ao presidente Lula ajuda, segundo analistas, a atenuar o cenário de riscos para o Brasil na economia. Isso porque, ao abrir espaço para negociações com o governo brasileiro, Trump diminui a possibilidade de o Brasil ser atingido por novas barreiras tarifárias pelos americanos e, o que seria ainda pior, de os bancos do País serem atingidos de forma mais dura pela Lei Magnitsky.
Imediatamente após a fala do presidente americano, por volta de meio-dia, as ações de empresas brasileiras, inclusive Banco do Brasil, passaram a subir, mostrando essa leitura por parte do mercado financeiro. O dólar já vinha em queda desde a abertura do pregão, repercutindo o tom duro da ata do Copom pelo Banco Central, que reforçou que os juros permanecerão altos por um período prolongado. Mas foi depois de Trump dizer que “rolou uma química”com Lula e que ambos se abraçaram, que a moeda americana caiu abaixo de R$ 5,30 e a bolsa firmou novo recorde histórico nominal.
Com o dólar mais baixo, a inflação corrente fica menos pressionada, e as expectativas também tendem a cair. Isso melhora o cenário para o Banco Central, o que pode facilitar o início dos cortes de juros, previsto para o início do ano que vem pelo mercado financeiro.
As razões do recuo de Trump, dizem analistas, têm menos relação com o Brasil, e mais com os efeitos que as tarifas que estão encarecendo produtos, gerando inflação e prejudicando empresários norte-americanos.
- Amanda Robertson, porta-voz do governo dos Estados Unidos: “Realmente, foi um momento espontâneo. O encontro que eles tiveram nos bastidores não foi planejado”. Foto: Reprodução/Globonews
- Fonte: G1/Globonews