Brasil assume a presidência do Mercosul em cúpula que teve Milei como anfitrião

3 de julho de 2025 12:09

Ver a foto oficial da Cúpula do Mercosul, em Buenos Aires, Argentina, mostra um pouco o climão de realizar um evento onde o anfitrião preferia nem estar- ele é o único que não sorri. Aliás, por ele, nem haveria Mecosul. Em seu discurso de encerramento da presidência pro tempore da Argentina no Mercosul, o presidente do país, Javier Milei, deixou bem claro que o principal interesse de seu governo no bloco é a abertura de novos mercados para as exportações argentinas – sem grandes conversas entre os membros, muitos seus oponentes politicos, a começar do brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Milei pediu mais liberdade econômica dentro Mercosul, mais flexibilidade das regras internas do bloco, e assegurou que ele não pode continuar sendo “uma cortina de ferro” para seus membros.

O líder argentino aproveitou o discurso para criticar o governo de Nicolás Maduro na Venezuela. Ele citou prisões feitas no país e exigiu a “imediata” libertação do policial argentino Nahuel Agustín Gallo. Ele ainda defendeu a cooperação no bloco para combater o crime organizado e agradeceu os países pelo apoio a Argentina na disputa territorial com o Reino Unido por conta das Malvinas. “Malvinas são território argentino”, disse Milei.

Ao final do encontro, Lula recebe de Milei o comando do bloco, pelos próximos seis meses. Será uma cena interessante de se ver. Será um dos poucos contatos entre os dois. Apesar da visita oficial, Lula não tem encontro previsto com o atual presidente argentino, Javier Milei. Segundo a agenda divulgada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência, não há reunião bilateral programada entre os dois líderes. O presidente, no entanto, teve encontros com o presidente Paraguaio, Santiago Peña, e mais tarde deve se reunir com o líder da Bolívia, Luís Arce. Esta é a primeira viagem de Lula à Argentina desde a posse de Milei, em dezembro de 2023. Portanto, não foi à sua posse.

O formato tradicional das reuniões do Mercosul prevê que apenas os presidentes, intérpretes e, eventualmente, alguns assessores próximos participem dos encontros bilaterais reservados.

Durante a campanha eleitoral, Milei fez diversas críticas públicas a Lula e ao seu partido. Em 2024, o presidente argentino chegou a visitar o Brasil, mas se reuniu apenas com o ex-presidente Jair Bolsonaro, sem contato com Lula.

🌍Pelas regras do Mercosul, há um revezamento semestral na direção do grupo formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — a Bolívia está na fase final do processo de adesão.

Na chegada à solenidade, Lula foi recebido pelo anfitrião, assim como os demais chefes de Estado, conforme determina o protocolo, e os dois trocaram apertos de mão cordiais (veja no vídeo acima).

Diante das divergências ideológicas dos presidentes, Brasil e Argentina mantêm uma relação pragmática desde a posse de Milei, conduzida pelas respectivas chancelarias e demais ministérios.

Acordos comerciais

Durante seu pronunciamento, Lula afirmou que, à frente do Mercosul, tem entre suas prioridades fortalecer o comércio dentro do bloco e com parceiros externos. Ele defendeu incluir os setores automotivo e açucareiro na união aduaneira.

O presidente disse estar “confiante” que até o final deste ano serão assinados os acordos de livre comércio com a União Europeia e a EFTA.

Lula afirmou que pretende avançar nas negociações de acordos comerciais com Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana, além de atualizar os acordos com Colômbia e Equador.

Em um momento de guerra tarifária entre Estados Unidos e China, o presidente declarou que o Mercosul precisa se voltar para os países da Ásia.

“É hora de o Mercosul olhar para a Ásia, centro dinâmico da economia mundial. Nossa participação nas cadeias globais de valor se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia”, disse.

Mercosul-União Europeia

À frente do Mercosul até o final de dezembro, Lula já adiantou que pretende intensificar as tratativas para assinar o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, cuja negociação se arrasta há mais de duas décadas.

🔎Se o acordo for ratificado, ele irá criar a maior zona de livre comércio do mundo. Porém, depende da aprovação dos países integrantes dos dois blocos para entrar em vigor.

O principal entrave no momento está entre os europeus. A França, por exemplo, critica o acordo por entender que poderá prejudicar seus produtores rurais.

Lula acredita que o cenário internacional, com a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, incentiva a União Europeia a assinar o acordo.

Além das discussões com a União Europeia, o Brasil conduzirá na presidência o avanço dos trâmites para implementar um acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Live Comércio (EFTA, na sigla em inglês), composta por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.

O governo brasileiro anunciou na quarta-feira (2) a conclusão das negociações. Segundo o Itamaraty, o texto está na fase de revisão e deve ser divulgado em agosto. Ainda não há uma data prevista para que o acordo entre em vigor.

Conforme o Itamaraty, o acordo entre Mercosul e EFTA criará uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado de mais de US$ 4,3 trilhões.

Foto dos presidentes na Cúpula do Mercosul. Foto: Luis Robayo/AFP

Fonte: G1/O Globo

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