Sem citar diretamente a Venezuela, Trump diz que fará ação terrestre contra cartéis em breve
23 de outubro de 2025 18:05O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (23) que deve realizar ações militares em terra contra cartéis. Ele não citou diretamente a Venezuela – mas não existe nada mais óbvio tal ao cerco militar montado ao redor da costa do país no mar do Caribe, além do sobrevoo de bombardeiros, de helicópteros “Night Stalkers” e de carta branca para a Agência Central de Inteligência (CIA) realizar “ações secretas” no país. Ou estaria Trump falando da Groelândia? Segundo o presidente imperialista, o assunto deve ser discutido com o Congresso. Há controvérsia.
O anúncio foi feito um dia após o bombardeio de mais uma embarcação no Oceano Pacífico, o nono ataque do tipo ocorrido na América do Sul. Segundo o Departamento de Guerra, o barco transportava drogas. Três pessoas morreram.
Em conversa com jornalistas, Trump afirmou que não precisará pedir ao Congresso uma declaração de guerra aos cartéis. O presidente disse que os Estados Unidos simplesmente “vão matar os responsáveis por levar drogas ao país”. A ofensiva de Trump contra o tráfico de drogas na região tem se intensificado nos últimos dias. Até então, os bombardeios haviam sido feitos apenas na região do Caribe, perto da costa venezuelana.
Os EUA dizem que a ofensiva mira o tráfico internacional de drogas, mas também acusam Nicolás Maduro de liderar um cartel classificado como organização narcoterrorista. O venezuelano nega.
Trump também acusa o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de ser um traficante que falha no combate aos narcóticos em seu país. O colombiano negou as acusações.
Ao lado de Trump, o secretário de Guerra, Pete Hegseth, afirmou que os militares americanos irão caçar e matar todos os “terroristas” que traficam drogas para os Estados Unidos.
“Estas são organizações terroristas estrangeiras designadas. São o Estado Islâmico e a Al-Qaeda do Hemisfério Ocidental. Nossa mensagem para essas organizações terroristas estrangeiras é: trataremos vocês como tratamos a Al-Qaeda.”
Bombardeios contra barcos
No início desta semana, ao ser questionado sobre se os EUA têm autoridade para bombardear embarcações em águas internacionais, Trump respondeu que sim. O presidente justificou as ações afirmando que 300 mil pessoas morrem nos EUA por ano por problemas relacionados às drogas.
Ele disse que os ataques no mar farão com que os traficantes passem a agir por terra — e que, nesse caso, ordenará ações terrestres com o aval do Congresso.
“Nós vamos atingi-los muito forte quando eles vierem por terra. E provavelmente iremos ao Congresso e explicaremos exatamente o que estamos fazendo, quando chegarmos por terra.”
A presença militar americana no Caribe inclui ainda destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6,5 mil militares.
Nas últimas semanas, as ofensivas americanas foram criticadas por analistas. Na terça-feira (21), um grupo independente de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que os bombardeios violam o direito internacional e constituem execuções extrajudiciais.
O grupo, nomeado pelo Conselho de Direitos Humanos, disse que os ataques violam a soberania do país sul-americano e as “obrigações internacionais fundamentais” dos EUA de não intervir em assuntos domésticos ou ameaçar usar força armada contra outro país.
Apesar da justificativa de Trump de combater o tráfico de drogas, os especialistas apontam que “mesmo que tais alegações fossem comprovadas, o uso de força letal em águas internacionais sem base legal adequada viola o direito internacional do mar e equivale a execuções extrajudiciais”.
“Esses movimentos são uma escalada extremamente perigosa com graves implicações para a paz e a segurança na região do Caribe”, disseram eles em um comunicado.
O grupo afirmou ter entrado em contato com os EUA sobre o assunto e disse que uma ação militar secreta ou direta contra outro Estado soberano constituiria “uma violação ainda mais grave” da Carta da ONU.
Ameaçado pelos EUA, Maduro diz que Venezuela tem 5 mil mísseis russos para se defender

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou na última que o país possui cerca de 5 mil mísseis terra-ar portáteis de fabricação russa para enfrentar as forças estadunidenses posicionadas no mar do Caribe. A declaração foi feita poucas horas após os Estados Unidos anunciarem o primeiro ataque contra uma embarcação em águas internacionais do Pacífico, que deixou duas pessoas mortas.
“Qualquer força militar no mundo conhece o poder do Igla-S [nome do modelo russo], e a Venezuela possui nada menos que 5 mil Igla-S”, declarou Maduro em rede nacional.
O sistema Igla-S é um equipamento de defesa antiaérea portátil, projetado para derrubar aviões, helicópteros e drones a baixa altitude. Segundo a Folha de S.Paulo, especialistas afirmam que trata-se de uma arma de fácil manuseio, capaz de atingir alvos em movimento com grande precisão, e amplamente usada em conflitos no Oriente Médio e na Europa.
Maduro afirmou ainda que as Forças Armadas do país estão em “posição de mira” para qualquer possível ofensiva. “Temos milhares de operadores do Igla-S em posições-chave de defesa antiaérea para garantir a paz, a estabilidade e a tranquilidade do nosso povo”, disse. Ele também afirmou que o país vive “a ameaça militar mais letal de sua história”, em referência à mobilização naval estadunidense no Caribe.
De acordo com o presidente venezuelano, o país conta com sistemas de simulação e treinamento capazes de preparar seus militares para agir em caso de ataque estrangeiro. Ele disse que os exercícios recentes realizados pelas Forças Armadas foram coordenados como resposta direta à presença dos navios e aviões dos Estados Unidos próximos ao território.
Memória
Como informamos antes, Trump anunciou que pretende intensificar as operações militares contra grupos de narcotraficantes que, segundo ele, operam em território latino-americano. “Vamos atacá-los com muita força quando vierem por terra; eles ainda não experimentaram isso”, afirmou. A declaração foi interpretada em Caracas como uma ameaça direta.
Segundo o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, o ataque realizado no Pacífico faz parte de uma ofensiva contra o narcotráfico internacional.
“Havia dois narcoterroristas a bordo durante o ataque, realizado em águas internacionais. Ambos foram mortos, e nenhuma força estadunidense foi ferida”, disse Hegseth. Esse foi o sétimo ataque em dois meses, consolidando uma das operações mais agressivas dos Estados Unidos na América Latina em décadas.
A retórica militar entre os dois países tem se intensificado desde que o governo Trump passou a adotar uma estratégia de “pressão máxima” contra o regime de Maduro. Autoridades em Washington afirmam que o objetivo é “remover o ditador do poder”, por meio de ações diplomáticas e militares.
Fontes do governo estadunidense já haviam confirmado que a Casa Branca autorizou a CIA a realizar operações secretas dentro do território venezuelano, com o objetivo de enfraquecer a estrutura do que definem como “regime chavista”.
- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante fala sobre cartéis. Foto: Jonathan Ernst/Reuters
- Fonte: G1/DCM